18.6.09

Junho de 1940 _ De Gaulle e a resistência

Ascensão meteórica leva Charles de Gaulle à liderança
da França - Timoneiro no exílio foi prisioneiro na Grande Guerra - General recusa-se a aceitar o armistício com os inimigos nazistas e defende a continuação da pugna
Foto: Musée de l'Ordre de la Libération
'Allez, les Bleus': com o microfone da rádio inglesa BBC, De Gaulle comanda a resistência

á menos de três meses, o general Charles de Gaulle era um ilustríssimo desconhecido do público francês. Mesmo entre o Comitê de Segurança Nacional, não seriam todos os membros que poderiam falar sobre suas propostas ou mesmo identificá-lo. Mas desde o último dia 28, quando De Gaulle, que se recusou expressamente a aceitar o armistício firmado pelo marechal Pétain com a Alemanha, foi reconhecido por Londres como líder supremo da França, todos sabem de cor qual é a bandeira levantada pelo agora general-de-brigada. Último estandarte da resistência francesa, De Gaulle está na Inglaterra convocando seus patrícios a não desistir da luta. "Falando com o pleno conhecimento dos fatos, eu peço a vocês que acreditem em mim quando digo que a causa da França não está perdida", bradou.

Nascido em Lille em novembro de 1890, criado nos preceitos católicos e com profunda convicção da grandeza da França, o jovem patriota ingressou nas fileiras do Exército em 1909 e serviu como soldado da infantaria na Grande Guerra. Ferido três vezes e tomado como prisioneiro em março de 1916, escapou ileso no final da batalha; entretanto, sua luta não foi suficiente para que galgasse postos na hierarquia gaulesa das armas. Em 1937, era o mero comandante de um regimento de tanques, e seus parcos momentos de notoriedade se resumiam à publicação de dois livros de estratégia - A Lâmina da Espada, em 1932, e Rumo a um Exército Profissional, em 1934 -, nos quais defendia movimentos de guerra agressivos, semelhantes aos empregados pelo general alemão Heinz Guderian, pai dos Panzers.

Foi apenas neste ano de 1940 que a sorte começou a soprar para o lado do general. Afilhado político de Paul Reynaud, teve sua lealdade recompensada com a nomeação deste para primeiro-ministro, em março. De Gaulle, que no início da guerra comandava remotas unidades blindadas no 5º Exército, foi então apontado como Comandante-Geral da 4º Divisão Blindada, em processo de formação. Após liderar a nova divisão com relativo sucesso na batalha de Laon, de 17 a 20 de maio, e conseguir nova proeza no confronto de Abbeville, de 28 a 30 de maio, De Gaulle foi promovido a general-de-brigada no último dia 1º. Mas, cinco dias depois, já foi apontado por Reynaud como subsecretário da Defesa Nacional, cargo que ocupou por apenas 10 dias. Em 16 de março, Reynaud renunciou e Petáin, seu substituto, já pedia o armistício.
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Na vanguarda - Em seu período de ministério, o general francês encontrou-se com Winston Churchill por três vezes e impressionou o primeiro-ministro britânico por sua repulsa a qualquer tipo de acordo com os alemães. Depois da rendição, a Força Aérea Britânica o tirou clandestinamente da França e o levou à Inglaterra, onde, no dia 23, criou o Comitê Nacional Francês, que passou a exercer a autoridade perante todos os cidadãos tricolores em solo britânico. Também criou uma legião voluntária francesa no país, além de um centro de armamentos e pesquisas científicas.

Todas essas ações de De Gaulle estão sendo apoiadas pelas autoridades britânicas, notadamente por Churchill, que enxergou no general um timoneiro para conduzir a França, ainda que extra-oficialmente, nesse período de adversidade. Apesar de sua personalidade introspectiva, o francês realmente tem um notável carisma como líder e pode ajudar a conseguir o apoio de boa parte do Império Francês para a continuação da guerra - ao contrário do que pretende o marechal Henri Pétain, que deve formar um governo de colaboração com a Alemanha. No final de junho, De Gaulle fez seis pronunciamentos na BBC, tentando arregimentar adeptos para a facção "França Livre". "Aconteça o que acontecer, a chama da resistência francesa não deverá nem irá morrer. A guerra não está perdida, o país não está morto, a esperança não está extinta. Viva a França!", declarou, em 18 de junho.

De qualquer forma, sua liderança ainda está verde - tão verde que sua face ainda não é conhecida pela maioria dos franceses. É com muita dificuldade que se encontra uma fotografia do general-de-brigada na França. Por enquanto, ele pode ser identificado apenas por um registro oficial da equipe da última administração de Reynaud. Ao menos nessa cena, De Gaulle, que hoje representa a liberdade dosBleus em sua vanguarda, ainda está na última fileira.
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De Gaulle lidera forças francesas no exílio
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Tropas nazistas invadem a capital da França

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Fonte: Veja na História
Disponível em:
http://veja.abril.com.br/especiais_online/segunda_guerra/edicao002/perfil.shtml