16.8.09

Educação a distância - Ensino tem mais vantagens que desvantagens, dizem especialistas

Educação à distância


A educação a distância em instituições de ensino superior é uma prática nova no Brasil. Segundo dados do MEC (Ministério da Educação), começou a se firmar em 1997, quando foram ofertados os primeiros cursos de pós-graduação. O credenciamento oficial por parte do governo federal, incluindo-se aí o surgimento das primeiras disciplinas de graduação, porém, se deu apenas entre 1999 e 2002.

Apesar disso, é intensa a discussão acerca das vantagens e desvantagens da EAD (educação a distância). A verdade é que, mesmo apresentando algumas ressalvas, os educadores destacam mais benefícios do que problemas na modalidade.

O pesquisador da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade de Campinas) Sergio Ferreira do Amaral, 50 anos, que estuda a aplicação de novas tecnologias no ensino, afirma não haver, "operacionalmente", empecilhos para ensinar a distância. "A dificuldade geral, hoje, é manter o mesmo nível de qualidade presente no ensino tradicional. Em termos geral, é tudo muito novo, e fica difícil estabelecer parâmetros para comparar. Saber se quem aprende em aulas não-presenciais sabe mais ou não", afirma Amaral.

Para Amaral, um "problema", que não pode ser visto propriamente como desvantagem, é o alto custo da produção de material teórico. "A adaptação do conteúdo didático para novas mídias é muito caro. Requer linguagem específica, recursos visuais. Tudo isso é feito por pessoas especializadas que trabalham em parceria com os professores. Mais uma vez, a mão-de-obra é mais cara. Além disso, hoje é imprescindível o uso do computador", afirma o pesquisador.

Porém, como destaca também o presidente da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), Frederic Michael Litto, esse custo passa a ser vantajoso quando o universo beneficiado é grande. "Se o material for utilizado por mil pessoas por ano, por exemplo, já se pagou o investimento".

Segundo Litto, a única outra desvantagem que ele percebe na EAD é a falta de uma biblioteca. "O aluno não tem um milhão de exemplares para consultar", diz. Mesmo assim, esse obstáculo pode ser vencido quando o aluno tem disposição. "Apesar do horário apertado --ou ele não teria escolhido um curso a distância--, existe a opção de visitar bibliotecas", diz.

Vantagens

Na outra ponta, a das vantagens, existe consenso pleno entre o professor da Unicamp, o presidente da Abed e outros participantes do setor: a EAD permite atender a um público muito maior e mais variado que os cursos tradicionais. Público esse, aliás, que não teria como voltar ou continuar a estudar sem a EAD.

" [A educação a distância] atende a pessoas ocupadas, sem disponibilidade de horários e otimiza o tempo livre", cita Litto. "Alguém com alguma deficiência física grave ou alguma paralisia, que não pode sair de casa, ganha a oportunidade de estudar", completa. "Ela [EAD] pode ser considerada uma ferramenta de inclusão social", declara por sua vez Amaral, da Unicamp.

Interação

A falta de troca de experiências entre professor e aluno e de convivência humana são citadas como desvantagens da educação a distância por quem ouve falar no assunto pela primeira vez. Mas há quem vê nessa falta de contato algo nem tão grave assim.

"Havia perdas no começo, mas com o largo uso da internet isso desapareceu. Não que o contato humano para um jovem em desenvolvimento não seja importante. Mas na EAD essa falta [de contato] não pode ser vista como um item que torna o ensino menos efetivo ou pior", afirma o professor da Unicamp Sergio Amaral.

Na opinião do presidente da Abed, Frederic Litto, a internet preencheu a lacuna. "A sociabilização existe sim. Há os chats (salas de bate-papo), as videoconferências. Os alunos não são apenas nomes na tela, têm rostos com o uso da webcam", afirma ele. "Muitas vezes, existe até maior liberdade para levantar dúvidas, porque a inibição de falar na frente de uma classe inteira é descartada", continua.

"É uma questão de cultura adotar a educação a distância", declara Amaral. "Assim como não é hábito usar a televisão para educar crianças. Falta capacitar os professores para usar a tecnologia e adequá-la, seja com a TV seja com a internet", afirma.
CAMILA MARQUES
da
Folha Online


Fonte:Folha OnLine Educação