25.10.09

A VIOLÊNCIA ESCOLAR E A IMPOTÊNCIA DA JUSTIÇA

A VIOLÊNCIA ESCOLAR E A IMPOTÊNCIA DA JUSTIÇA

Características sociais ao longo da história.

Wolney Blosfled

Nos últimos anos temos observado uma crescente inversão de valores na sociedade brasileira, nunca com tanta ênfase o certo, o correto foi tão relativo, jovens de 16 anos podem eleger um presidente da república, e com menos idade já estão formados nas faculdades do crime. Os humanitários ditos protetores dos direitos universais à vida e liberdade, com seus movimentos paradigmáticos, criaram um sistema de valores às avessas onde o bom e o correto é que são encarcerados e sofrem constantemente a opressão de uma legislação falha e incoerente.

A própria sociedade cobra a ostentação e o consumismo, porem não oferece meios e/ou mecanismos para a concretização dos desejos de nossos jovens, o ter ou o aparentar nunca foram tão necessários para os jovens quanto nos dias atuais, como fator de aceitação e valorização social do seu meio. O capitalismo cobra sua parcela da integridade social, dividindo, separando e desintegrando os lares abalando desta forma o principal pilar da evolução humana: A família.

Em nossas escolas estes fatos se apresentam de forma presente e indelével, quando somos forçados a conviver e fazer os bons alunos conviverem com verdadeiros parias da sociedade.

Este presente trabalho visa trazer à luz das discussões a realidade indelével da face da violência em nossas escolas, contribuindo desta forma para a busca de alternativas viáveis e politicamente corretas para a solução deste problema que assola nosso país.

Exemplos na história

A educação espartana - O código licúrgico

Em Esparta o código licúrgico, tanto no político como no educacional, resultou de uma gradativa adaptação dos espartanos às circunstâncias crescentemente adversas. Quanto maior era a resistência a eles na região onde viviam, na Lacedemônia, conhecida por suas sucessivas rebeliões e amotinamentos, mais os espartanos enrijeciam-se, mais militarizada tornava-se a maneira deles viverem Enquanto as demais polis gregas passavam por várias e diversificadas experiências institucionais e por diverso regimes políticos, tais como a oligarquia, a tirania e a democracia, Esparta aferrou-se num sistema de castas militarizadas e disciplinadas, dominado superiormente pelos espartacitas, a quem vedavam qualquer atividade que não fosse exclusivamente as lides castrenses, tendo os periecos como uma classe de colaboracionistas, ajudando-os na ocupação ou fazendo o papel de intermediários entre eles e os servos, e, no escalão bem inferior, os hilotas , os escravos da comunidade. Platão, num certo momento, definiu-a como uma timocracia, isto é governada pela coragem.

A Agogê, a educação espartana

Em seu próprio significado, a palavra que os espartanos aplicavam para a educação já dizia tudo: agogê ( agoge) , isto é, “adestramento”, “treinamento”. Viam-na como um recurso para a domesticação dos seus jovens. O objetivo maior dela era formar soldados educados no rigor para defender a coletividade. Assim sendo , temos que entendê-la como um serviço militar estendido à infância e à adolescência. Sabe-se que a criança até os sete anos de idade era mantida com a mãe, mas a partir dos 8 anos enviavam-na para participar de uma espécie de bando que era criado ao ar livre, um tanto que ao deus-dará, onde terminavam padecendo sob um regime de permanente escassez alimentar para que desenvolvessem a astúcia e o engenho para conseguir uma ração suplementar. Adestramento muito similar ao que hoje é feito entre os regimentos especiais de combate contra-insurgente ou dos batalhões da floresta.

Castigos físicos

Admitiam, pois o ardil e o roubo como artifícios válidos na formação das suas crianças e dos seus jovens. Pegos em flagrante, no entanto, ministravam-lhes castigos violentíssimos, sendo submetidos à chiamastigosis ( chiamastigosis), às supliciantes provas de flagelação pública

Dos 12 aos 15 anos instruíam-nos nas letras e nos cálculos e, naturalmente, no canto de hinos patrióticos do poeta Tirteu que ressaltavam a bravura e a coragem destemida. Na etapa final, entre os 16 e 20 anos, quando denominados de eirén (eiren), um pouco antes de entrarem no serviço da pátria, eram adestrados nas armas, na luta com lanças e espadas, no arco e flecha. Então lhes aumentavam a carga dos exercícios e a participação de operações militares simuladas nas montanhas ao redor da polis. Como observou Plutarco, o objetivo era de que sempre andassem “como as abelhas que sempre são partes integrantes da comunidade, sempre juntas ao redor do chefe... parecendo consagradas inteiramente à pátria.”

Cultivando a excelência da força física, que fazia com que Esparta quase sempre arrebatasse os louros nos jogos olímpicos, atuavam em bandos liderados por um proteiras, um líder de esquadra, uma espécie de sargento instrutor, que lhes ensinava as táticas da arte da sobrevivência. A essa altura do agogê, perfilava-se o que Esparta desejava do seu jovem: silencioso, disciplinado, antiintelectual e antiindividualista, obediente aos superiores, vigoroso, ágil, astuto, imune ao medo, resistente às intempéries e aos ferimentos, odiando qualquer demonstração de covardia, fiel ao esprit de corps e fanaticamente dedicado à cidade.

Na Idade média

Na Idade Média, a Educação era vista como um instrumento para se alcançar a Sabedoria, que conseqüentemente, levaria o homem à Felicidade, um bem desejado por si mesmo e mais perfeito que todos os outros bens.

Esses medievais personificam maravilhosamente um tempo que buscou a ciência como um fim nobre em si, e não visando um objetivo específico que, no fim das contas – como vimos ao longo da História – muitas vezes passou a ser mais importante que o próprio ato de conhecer.

Na Antigüidade Ocidental a Educação era entendida como uma transmissão de técnicas adquiridas. O ato pedagógico tinha, sobretudo, a finalidade de possibilitar o aperfeiçoamento dessas técnicas através da iniciativa dos indivíduos. A Pedagogia não tinha a dignidade de ciência autônoma, sendo considerada parte da Ética ou da Política, e, por isso, elaborada unicamente em vista do fim que estas propunham ao homem. Os expedientes ou os meios pedagógicos só eram estudados em relação à primeira educação ministrada na infância: ler, escrever e contar. A reflexão pedagógica era dividida em dois ramos isolados: um de natureza puramente filosófica, elaborado por conceitos éticos, e outro de natureza empírica ou prática, visando preparar a criança para a vida. O ato de educar era baseado no ser, utilizado para a formação e amadurecimento do homem e a busca de sua consecução completa ou perfeita. Ele era uma passagem gradual da potência ao ato, da infância até a fase adulta.

No entanto, o status da criança no mundo antigo era praticamente nulo. Sua existência dependia do poder do pai; poderia ser rejeitada se fosse menina ou se nascesse com algum problema físico. Seu destino, caso sobrevivesse, era abastecer os prostíbulos de Roma e o sistema escravista. Até o final da Antigüidade, boa parte das crianças pobres eram abandonadas ou vendidas; as ricas enjeitadas - por causa de disputas de herança - eram entregues à própria sorte. Seria necessário a revolução pedagógica levada a cabo pelo cristianismo para que a criança passasse a ser valorizada como ser e recebesse uma orientação educacional direcionada e de cunho ético-integral .

A base do currículo educacional medieval foi dada pela obra O casamento da Filologia e Mercúrio, do cartaginês Marciano Capela, escrita por volta de 410-427. Nela, o autor, influenciado pela enciclopédia de Varrão (Sobre as Nove Disciplinas), tratou das Sete Artes Liberais, damas de honra daquele casamento: 1) Gramática, 2) Retórica, 3) Dialética, 4) Aritmética, 5) Geometria, 6) Astronomia e 7) Harmonia. Marciano Capela deixou de lado a Medicina e a Arquitetura, por tratarem de coisas terrestres que “...não têm nada em comum com o céu.”

Platão já havia mostrado a distinção entre o que se chamou o Trivium (Gramática, Retórica e Dialética) e o Quadrivium (Aritmética, Geometria, Astronomia e Música). Ao que tudo indica, Boécio (480-524) foi o primeiro a chamar de Quadrivium as quatro disciplinas aqui relacionadas; o termo Trivium só foi utilizado mais tarde. (As Artes Liberais eram denominadas artes, pois implicavam não somente o conhecimento, mas também uma produção que decorria imediatamente da razão, como várias outras - por exemplo, o Discurso e a Retórica, os Números e a Aritmética), as Melodias e a Música, etc.

Assim, ao lado das sete Artes Liberais, desenvolveu-se durante esse primeiro tempo medieval um novo o conceito de Educação. Os pensadores de então acreditavam que as palavras (a linguagem) possuíam em si a possibilidade de resgatar a experiência humana esquecida; o próprio conceito significava literalmente a idéia: educação, educe, “fazer sair”, “extrair”. Por exemplo, na Península Ibérica usava-se o verbo nutrir: o mestre era o nutritor e o estudante o nutritus. Aqueles homens entendiam a educação como um ato saboroso para o intelecto - daí o significado etimológico de sabor para a palavra saber.

Para os educadores de então, o conhecimento já existia inato no estudante. Restava saber de que modo o aluno seria conduzido da ignorância ao saber. Cabia ao professor acender uma centelha na criança, formá-la, não asfixiá-la . O estudo era utilizado principalmente para o desenvolvimento da vida do espírito, para a elevação espiritual. Hoje isto se perdeu de uma tal forma que uma das características marcantes da pedagogia moderna consiste no fato de ela ter conseguido dissociar, cada vez mais profundamente ao longo dos últimos 700 anos, o estudo da busca de Deus, de valores éticos e morais, enfim, das virtudes, causa primeira da profunda crise ética pela qual passamos nos dias de hoje.

Até o aparecimento da literatura vernácula (séculos XI e XII), os monges cristãos foram os responsáveis pela manutenção e produção de praticamente todos os textos escritos. Eles preservaram a cultura antiga. Graças a seu meticuloso trabalho realizado nos mosteiros, os monges copiaram os escritos antigos, salvando-os assim das invasões bárbaras da Alta Idade Média. Além disso, eles lideraram umarevolução cultural sem precedentes: inventaram nossa caligrafia (minúscula carolíngia), o livro (folio) e nossa forma de leitura (em silêncio), expandindo ao máximo a capacidade cerebral de reflexão profunda.

Assim, se deseja ser hábil em uma arte, pratique-a! Se quer ser inteligente, estude, se quer escrever, escreva, e assim por diante. Em outras palavras: aprenda fazendo, conselho simples e óbvio conhecido pelos medievais, hoje abandonado por muitas pedagogias ditas modernas.

Como Deus era pensado em termos ativos - a criação do mundo não fora uma ação de Deus? - cada elemento possuía uma natureza intrínseca e ativa de origem divina, isto é, que tinha uma relação direta com o sagrado.

Assim, a qualidade de cada elemento se relacionava com a de outro elemento. Por exemplo: o fogo é quente e seco, a água fria e úmida, a terra fria e seca e o ar quente e úmido; os medievais acreditavam que essas qualidades interagiam entre si: a umidade da água passava para o ar, que com seu calor interagia com o fogo; o fogo ressecava a terra, que por fim, resfriava a água.

Todo o sistema educativo medieval era uma estrutura análoga à estrutura do universo. Senão vejamos: educar era acender uma centelha no estudante, isto é, estimular um fogo já existente dentro das crianças; essa centelha pueril deveria ser estimulada a buscar as virtudes através do hábito de fazer coisas boas, através do exemplo dado pelo mestre; o hábito da virtude levaria à moderação e, por sua vez, a moderação equilibraria os temperos do homem. Estes temperos, regulados de acordo com a posição dos astros, dos signos do Zodíaco e dos líquidos corporais, traria, junto com o estudo da filosofia, a felicidade, fim supremo desejado por todos.

A medicina estava ligada à filosofia, portanto! Esta teoria científica dos humores baseava-se em Hipócrates (c.460-380 a.C.), mas principalmente em Galeno de Pérgamo , médico e anatomista grego. Este fato mostra bem que, ao contrário do que algumas vezes se afirma, os medievais não só conheciam os textos da Antigüidade como davam até valor demais a eles, respeitando-os como autoridades.

O mundo do ocidente medieval ainda recebeu o reforço da medicina árabe, que também compartilhava a teoria de Galeno. O bem estar do corpo estava condicionado a esses quatro fluidos corporais. Os humores e as constelações determinavam os graus de calor e umidade do corpo e a proporção da masculinidade e feminilidade de cada pessoa. Afelicidade educacional passava então pelo corpo são, mas sobretudo, pela mente sã - livre, e voltada para Deus .

Por fim, as artes mecânicas, também eram um caminho para se obter a felicidade terrena. A arte mecânica é ciência lucrativa manual para dar sustentação à vida corporal. nessa ciência estão os mestres, isto é, os lavradores, os ferreiros, os marceneiros, os sapateiros, os alfaiates, os mercadores e os outros ofícios semelhantes a esses.

Nesta ciência os homens trabalham corporalmente para que possam viver, e uns mestres ajudam outros, e sem esses ofícios o mundo não seria ordenado, nem burgueses, nem cavaleiros, nem príncipes e nem prelados poderiam viver sem os homens que têm os ofícios citados acima.
A principal razão pela qual os cristãos envelhecem e morrem antes dos sarracenos é porque o sarraceno usa mais coisas doces, que são quentes e úmidas, que o cristão. E a água que ele bebe multiplica a umidade, fazendo durar sua umidade radical. E o cristão que bebe vinho, que é quente e seco, multiplica seu calor e consome sua umidade.

Na fisiologia medieval, a umidade radical era o humor vital ao qual era atribuída a conservação da vida animal. Comparativamente, enquanto o regime alimentar cristão era baseado na trilogia clássica pão-carne-vinho, o dos muçulmanos era rico em frutas doces, vegetais e vitaminas, como, aliás, recomenda a medicina atual. Os cristãos medievais admitiam que muitos muçulmanos viviam até oitenta ou cem anos.

Em resumo o ensino continha matérias predominantemente teológicas e em segundo plano a cultura humanista em geral. Esta educação evitava despertar inquietação intelectual ou desenvolver a criatividade. Evitava-se que os homens questionassem o mundo. A principal atitude estimulada era a obediência, o respeito à hierarquia religiosa e a aceitação conformista diante dos ensinamentos dos superiores. Aquilo que não era compreendido deveria ser aceito como um mistério divino. Desencorajava-se a pesquisa imparcial, realizada à luz da razão.

Fora do ambiente dos mosteiros os nobres viviam sempre preocupados com guerras e a defesa de suas propriedades. A educação voltada apenas à nobreza, cultivava a obediência e fidelidade aos principes, a coragem para enfrentar os inimigos e proteger os súditos, a honra entre os parceiros da cavalaria e a cortesia em relação às mulheres. Destacava-se o aspecto militar. O aspecto intelectual era descuidado, até mesmo as noções elementares de leitura e escrita. Não havia, contudo, nenhuma preocupação com a educação do povo em geral, foram dos círculos da nobreza. Quando a educação decadente chegava a níveis insuportáveis, surge a figura de um rei analfabeto que começa a mudar o panorama educacional da idade média.

Carlos Magno (771-814) era um guerreiro que se converteu ao Cristianismo, tornando-se o seu grande defensor. Contudo, usava a violência e tratava com crueldade os povos pagãos que relutassem a se converter ao cristianismo. Segundo a história, chegou a decapitar 4500 pagãos. Nunca os ideais de Jesus estiveram tão distantes de seus seguidores. No entanto, ele, Carlos Magno possuía um conselheiro de nome Alcuíno que convenceu o rei a realizar uma grande obra de educação, criando escolas em diversas paróquias, além de ordenar aos nobres da corte que estimulassem atividades educacionais nos castelos e nos mosteiros. Para dar o exemplo, criou em seu próprio palácio uma escola que se tornou famosa, tendo Alcuíno como professor e entre os alunos o próprio Carlos Magno, sua família e diversos nobres de sua corte. Pela primeira vez, as matérias abrangiam diferentes campos do conhecimento, como a aritmética, o grego, o latim, a astronomia e outras ciências. De certa forma, o trabalho de Carlos Magno, inspirado por Alcuíno, deu um novo impulso à educação.

Em 1090 surge no sul da Itália, numa pequena comunidade de origem grega, a primeira e grande escola de Medicina, tornando-se a primeira universidade. O Mosteiro de Salermo já cultivava a literatura grega e se interessava particularmente pela medicina. O termo universidade, contudo, não servia para designar diversos ramos do conhecimento humano, mas o lugar onde estudantes de diversas nações poderiam estudar, ou seja, uma universalidade de pessoal. Mas foi o grande passo para uma grande mudança no sistema de ensino. Com o tempo surgiram outras universidades como a de Bolonha, de Paris, Oxford, Salamanca e Cambridge. Surgiram faculdades de Artes, Teologia, Medicina e Direito. Embora subordinadas ao Estado ou à Igreja, possuiam certa autonomia, podendo eleger seus diretores, reitores e professores.

Em 1226 nasce Tomas de Aquino, nas proximidades de Nápoles, sul da Itália, integrando o movimento escolástico que procurava explicar a fé cristã de maneira racional, tanto quanto possível. O sistema filosófico elaborado por Tomás de Aquino, o tomismo, revive boa parte da doutrina de Aristóteles, continuando, de certa forma, os ensinamentos do mestre grego. Comparava (como fez Santo Agostinho (354-430) o papel do professor ao do agricultor: este cultivava as plantas, o outro a sabedoria.

Não é objetivo deste trabalho estudar os argumentos da escolástica, mas ressaltar que essa foi a grande tentativa de atrair os pagãos através de argumentos racionais e não pela violência. O ano de 1453, com a Queda de Constantinopla, marca (historicamente) o fim da Idade Média. A Igreja Romana havia cometido os maiores abusos de poder com as cruzadas, a inquisição, a vendas das indulgências e os abusos do Clero. O declínio da influência da Igreja coincidia com a ascensão dos grandes comerciantes que passavam a financiar e proteger as artes e a cultura.

Surge assim, o período de uma grande explosão cultural em todo o planeta, conhecido como Renascença no campo das artes e Humanismo no campo pedagógico, filosófico e literário. Na mesma época surge a Reforma, no campo religioso. Muda-se o ambiente cultural, filosófico e religioso do Planeta.

O cultivo da coragem

Platão, ao comentar a educação espartana, observou que sua principal falha era exatamente a ênfase excessiva nos exercícios físicos, conquanto que a boa educação resultava de um composto da ginástica e da música, aqui entendida como a educação humanística em geral. Além disso, a obsessão militarista impedia-os de saberem conduzir-se em tempos de paz e mesmo em administrar sociedades conquistadas por eles que não tinham os mesmos valores deles. A ausência de elasticidade os fazia perder. A crítica maior, porém, dirigem-se ao objetivo final disso tudo que era a de desenvolver exclusivamente a coragem (thimos). O jovem transformado num menino-soldado, não teria receio de nada que envolvesse as artes militares, as manobras em campos de batalha ou as ameaças dos inimigos da coletividade. A coragem, antes de tudo, era uma obsessão espartana. Por conseqüência não apreciavam nenhum tipo de tolerância, nem desenvolveram sensibilidades outras que os tornassem mais humanos e cordatos.

O Exemplo de Roma

O florescimento da Civilização Romana não está isento do contágio pelo Helenísmo. De acordo com as palavras de Horácio: A Grécia conquistada conquistou por sua vez seu selvagem vencedor e trouxe a civilização ao rude Lácio. Porém, o fosso abissal que separava o "rude Lácio" do elevado nível cultural atingido pelos Gregos foi rapidamente ultrapassado, como consequência da enorme facilidade dos latinos para adaptarem e assimilarem os costumes das outras civilizações, em particular da Civilização Helénica e Helenística.

Constata-se no entanto ter existido alguma resistência à invasão pelo Helenismo. Os pequenos camponeses do Lácio, por exemplo, protegem-se contra as inovações estrangeiras pelo respeito de uma tradição ancestral o mos maiorum. De acordo com esta tradição, o fim da educação é prático e social. Espera-se que a educação proporcione à criança o saber necessário para o exercício da sua profissão de soldado ou de proprietário rural, que inculque a ética que subordina o indivíduo a um ideal superior Roma e a Res Publica. O objectivo é formar o cidadão o civis romanus.

No século II a.c., o pater familias concede à mãe, a matrona romana, os direitos sobre a educação de seus filhos durante a primeira infância, gozando aquela de uma autoridade desconhecida na Civilização Grega. Mas, por volta dos 7 anos de idade, a educação da criança passa a estar a cargo de seu pai ou, na ausência deste, de um tio. Caberá ao pai a responsabilidade de proporcionar ao filho a educação moral e cívica. Esta passa pela aprendizagem mnemónica de prescrições jurídicas concisas e de conceitos, constantes nas Leis das XII Tábuas, símbolo da tradição Romana.

Esta forma de educação tem por base a preocupação natural de associar os valores culturais e o ideal colectivo. Exalta a piedade, o sentido romano do termo pietas traduz respeito pelos antepassados. Nas tradicionais famílias patrícias, os antepassados representam orgulhosamente os modelos do comportamento, repetidos geração após geração.

Quando o adolescente, por volta dos dezasseis anos de idade, finalmente se liberta da toda pratica da infância para vestir a toga viril, tem início a aprendizagem da vida pública, otirocinium fori. O jovem acompanhará o pai ou, se necessário, um outro homem influente, amigo da família e melhor posicionado para o iniciar na sociedade. Durante cerca de um ano, e anteriormente ao cumprimento do serviço militar, o jovem adquire conhecimentos de Direito, de prática pública e da “arte do dizer”, concepção romana da eloquência.

Roma adapta a Educação Grega

Roma foi incapaz de permanecer imune ao contágio pelo Helenismo. Na constituição do Império Romano, da baía ocidental do Mediterrâneo até ao mar oriental, ficarão integradas diversas cidades Gregas. Mas, muito antes do Império, já os etruscos, haviam sido influenciados pelos Gregos a quem foram buscar o alfabeto, bem como técnicas com vista à aprendizagem da leitura e da escrita.

A influência Helénica não mais cessará de crescer, em particular com a invasão e posterior anexação da Grécia e da Macedónia no século II a.c..

A partir de então, alguns preceptores gregos ou com sua formação apoiam a educação familiar dos jovens romanos. Na verdade, praticamente deportados pelas agitações do Oriente ou atraídos pela rica clientela romana, muitos gramáticos, retóricos e filósofos atenienses dirigem-se a Roma. Serão estes os Mestres responsáveis pelo ensino de jovens e de adultos.

Cedo os Políticos de Roma haviam compreendido que o conhecimento da Retórica ateniense seria um fator decisivo com vista a melhorar a eloquência dos seus discursos junto das multidões. Com a Retórica e a formação literária que lhe servia de base, Roma descortinou a pouco e pouco todos os aspectos encobertos da cultura Grega. O helenismo impregna toda a Roma, surgindo também na vida religiosa e nas artes, como seja nos teatros que adotam os modelos, temas e padrões helenísticos.

Não obstante se reconhecer que os tentáculos da Civilização Helenística se estenderam a todos os domínios, em nenhum é esta influência tão notória como na cultura do espírito, e, por conseguinte, na Educação. A original contribuição da sensibilidade, do carácter, e das tradições de Roma, aparecerá somente sob a forma de retoques de detalhe e pequenas inflexões, favorecendo ou reprimindo alguns aspectos do modelo educativo da Paideiagrega.

Nesse entido, a aristocracia romana recorre, numa primeira fase, a escravos alforriados que a conquista lhes havia proporcionado e, posteriormente, a Mestres de Grego especializados.

Paralelamente a esta precetora particular no seio das grandes famílias surge o ensino público do grego, ministrado em verdadeiras escolas, umas vezes por escravos gregos que assumem o papel de Mestres, outras, por Mestres Gregos qualificados. Não satisfeitos com este tipo de educação, muitos jovens romanos vão à Grécia para aí completarem os seus estudos.

Um indício marcante sublinha o êxito da influência grega na Educação e em particular no desenvolvimento da escola. Roma vai buscar ao Helenismo o termo Paedagougos para designar o escravo incumbido de acompanhar a criança à escola.

Caracteristicas e contextualização na atualidade

Conforme percebemos a educação sempre esteve intimamente ligada ao poder do Estado, sendo esta fator constante de sua soberania e afirmação ao londo da história, como forma de preservação de valores e tradições dos povos. O Estado determina o que e como deve ser ensinado, ao mesmo tempo em que articula leis e procedimentos para o fiel cumprimento de seus ideais. Então o que esta ocorrendo? Alunos ameaçam professores e funcionários, destroem patrimonio público e saem da escola cada vez menos preparados para a sociedade e para o mercado de trabalho, e segundo a legislação vigente a escola que deve se adaptar, o professor deve se adaptar, na prática o aluno esta sempre certo, a qualidade do ensino em baixa como nunca se viu. Onde foi parar o respeito e o orgulho de ser professor? Onde foi parar a afirmação do Estado na preservação de seus ideais?

A violencia presente em nossas escolas públicas, os baixos salários, as condições de trabalho, afastam dia a dia os bons profissionais. É importante esclarecer que a desestrutura familiar tão comentada ultimamente não representa, necessariamente, a separação dos pais ou até mesmo a ausência de um deles, mas a falta de responsabilidade pela orientação e pelo acompanhamento dos filhos, assim como a ausência de limites, de autoridade, de diálogo e de respeito, pois compreender a dinâmica psicossocial do jovem significa entender quais os fatores que podem influenciá-lo a se envolver em atos violentos, porem não podemos deixar de criticar a legislação atual que de toda forma protege o menor infrator, tal legislação impede na maioria de nossas escolas sequer pensar em estratégias que possam adotar a fim de minimizar, já que é tão crescente, o problema da violência, nesse momento em que a sociedade como um todo sofre com a delinqüência juvenil e a deteriorização das famílias brasileiras.

A precariedade nas relações sociais e a carência de políticas públicas preventivas abrem canais para que a violência se instale dentro e fora da escola. Professores, alunos, pais, gestores escolares, autoridades e outros segmentos que interagem com a escola entendem que o agravamento da violência é um fenômeno que interfere nas relações e causa impacto na formação educacional dos alunos e consequentemente na formação de um povo, resta nos perguntar a quem interessa esta queda na qualidade de ensino e do próprio cidadão, já que o Estado ao que tudo indica perdeu as rédeas ao criar leis que protegem e desta forma incentivam a crescente violência em nossa sociedade e dentro de nossas escolas. Atualmente vemos campanha governamental na TV em que é veemente afirmado o papel do professor como fator de formação social e desenvolvimento de um país, mas a realidade em que vivemos diariamente em nossas escolas prova que os caminhos adotados pelos governantes está nos levando ao crescente declínio da qualidade da educação e consequentemente da formação do povo brasileiro, nos deixando a mercê de povos mais conscientes do valor da educação como fator de desenvolvimento nacional.

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