15.7.10

Dimitri Sensaud de Lavaud o pioneiro que realizou o 1º voo na América do Sul

Quatro anos após o brasileiro Santos Dumont voar na França com seu 14-Bis e fazer história, o francês Dimitri Lavaud voou no Brasil e caiu no esquecimento.


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Dimitri Sensaud de Lavaud (1882-1947)


O AVIADOR

O francês Lavaud (foto) fez o que nem mesmo Santos Dumont conseguiu: voar no Brasil.


Em 12 de novembro de 1906 o aviador brasileiro Alberto Santos Dumont decolou com sua aeronave 14-Bis do campo de Bagatelle, em Paris, percorreu 220 metros no ar e conquistou o recorde oficial da aviação mundial. Foi o ponto culminante de uma corrida aérea que tinha na França uma das indústrias mais preparadas para esse desafio naquele início do século XX. Curiosamente, o feito do brasileiro Santos Dumont na Europa, viabilizado pelo talento do aviador e pela tecnologia local, abriu caminho para que o francês Dimitri Sensaud de Lavaud, radicado em São Paulo, realizasse algo semelhante – só que em solo e céu brasileiros.

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A sua trajetória e o seu empreendedorismo são lembrados no livro “1910 – O Primeiro Vôo do Brasil” (Editora Aleph), de Susana Alexandria e Salvador Nogueira.

O Primeiro Voo do Brasil

Os avanços na engenharia aeronáutica geravam otimismo, e as boas notícias que cruzavam o Oceano Atlântico levaram o jovem autodidata Lavaud a realizar o que Santos Dumont jamais conseguira: um bem-sucedido vôo em espaço aéreo brasileiro.

O vôo

No dia 7 de janeiro de 1910, às 5h50 da manhã, Dimitri dá a partida no motor. E o barulho de motor se ouvia nas proximidades do chalé Bricola, em Osasco, então vila do município de São Paulo. Alguns instantes depois aconteceria o primeiro vôo de um avião na América do Sul.

A bordo da máquina, batizada de São Paulo, o aviador e inventor Dimitri Sensaud de Lavaud (1882-1947).

O “piloto”, calmo e sorridente, dá sinal para que as pessoas se afastem, deixando o caminho livre para sua passagem. Partindo muito rápido, o avião levanta vôo. Deslizando 70 metrossobre o terreno da rampa, que atualmente dá visão para a Avenida João Batista, Dimitri chega a uma altura de 3 a 4 metros do chão. Percorreu cerca de 105 metros em 6 segundos e 18 décimos.De repente o motor parou, o que causou uma aterrissagem brusca, danificando as rodas dianteiras. Dimitri, que nada sofreu, sai do avião indignado, mesmo enquanto o público o aclamava.

Esperava ter voado por mais tempo. Tentando explicar ao público que pretendia ter voado mais de 10 segundos, acabou falando com ele mesmo já que as pessoas não deram ouvidos. Não era para menos, aquela era a mais nova invenção realizada e que acabara de colocar seu nome na história. No dia seguinte, a história foi contada pelo Estado, sem economia de adjetivos, e a foto do aviador ficou exposta na vitrine da sede do jornal.

Assim, foi inaugurada a aviação em toda a América do Sul e Dimitri pôde mostrar que sonhos poderiam se transformar em realidade.


Aeroplano São Paulo

Com o aeroplano "São Paulo", Dimitri chegou a uma altura de 3 a 4 metros do chão, percorrendo cerca de 105 metros em 6 segundos e 18 décimos. Na ocasião, seu feito foi divulgado amplamente pela imprensa, tornando-o conhecido. Mas, com o passar dos anos, a história foi completamente esquecida, e hoje muitos creditam a realização do prim

eiro voo latino-americano ao piloto mexicano Alberto Braniff (1884–1966).

Uma réplica do "São Paulo" está conservada no Museu Asas de um Sonho na cidade de São Carlos.

Dimitri Sensaud de Lavaud (1882-1947)

Engenheiro, inventor e aviador francês naturalizado brasileiro que construiu o primeiro avião nacional.

Lavaud veio morar em Osasco no final do Século XIX. Trazido pelo pai, que veio ao país motivado por oportunidades de negócios, o jovem decidiu construir o que viria a ser o primeiro avião legitimamente brasileiro e com ele realizou o primeiro vôo da América Latina, na cidade de Osasco, São Paulo, no dia 7 de janeiro de 1910.

Dimitri tinha quinze anos, e veio com a família de Paris para o Brasil, e instalou-se em Osasco, no chalé que hoje abriga o museu que recebeu seu nome.

Ele se dedicou ao longo de quatro anos ao seu ambicioso projeto de construção de um avião. Era aficionado por engenharia mecânica e encomendara na Europa dezenas de publicações científicas. Contratou como parceiro o projetista e mecânico Lourenço Pellegatti, e o resultado de sua empreitada viria a público no dia 7 de janeiro de 1910.

Muito curioso, ele pesquisava tudo sobre aviação. É provável que tenha mantido algum contato com Santos Dumont, pois Victor Brecheret tinha uma casa no bairro de São Francisco, que faz divisa com Osasco, e dizem que Santos Dumont visitava o amigo nessa chácara que hoje é uma escola infantil. É possível que Dimitri tenha se encontrado com o pioneiro da aviação, e decidido que também iria voar.


Em Osasco naquela época havia muitas chácaras. Os modernistas Oswald e Mario de Andrade e Tarsila do Amaral frequentemente passavam os finais de semana no bairro paulistano. Moradores antigos contavam que quando a bailarina russa Isadora Duncan esteve no Brasil, Oswald de Andrade a trouxe e, aqui, ela dançou seminua para ele. Em seu livro “Um Homem sem Profissão” o escritor escreveu sobre esta passagem de sua vida.

Dimitri já era casado quando em 1909, carregando seus rascunhos, se dirigiu à oficina Graiy Martins, que se localizava em frente à estação Júlio Prestes,
em São Paulo. Procurava um mecânico habilidoso, capaz de transportar para o metal o seu projeto do motor. Indicaram-lhe Augusto Fonseca, um mecânico experiente, mas como este cobrou muito caro pelo trabalho, ele acertou com Lourenço Pellegatti um jovem de dezessete anos que, apesar da pouca idade, já se destacava como um bom profissional.

No domingo seguinte Pellegatti, que morava na Lapa, foi de bicicleta ao chalé onde moravam os pais do amigo. E já naquele domingo os dois se entregaram de corpo e alma à construção do avião. Era tanto o entusiasmo de ambos, que o jovem mecânico não voltou para casa, deixando seus pais apreensivos. Dias depois seu irmão mais velho o localizava em Osasco, tão preocupado com os rumos da construção do avião, que não se dera conta da apreensão que seu desaparecimento provocaria nos familiares.

O inventor continuava seus estudos e, muitas vezes, contou-nos Pellegatti, nos anos 70, acordava-o em plena madrugada, para mostrar-lhe alguma nova descoberta no projeto em andamento e, se Pellegatti discordava dele em alguma coisa, ele o chamava de burro, com o carregado sotaque francês que adquirira durante a convivência com a família e os vários anos que residira na França. Mas logo depois lhe pedia desculpas ao reconhecer que o amigo mecânico estava com a razão.

O comendador Evaristhe Sensaud De Lavaud, pai de Dimitri, possuía uma oficina mecânica muito bem montada na Cerâmica Osasco, de sua propriedade. No entanto as peças requeriam a utilização de tornos muito delicados que não existiam em sua oficina. Para isso, o inventor recorreu à oficina de reparos de papelão Sturlini – Matarazzo (Adamas do Brasil), localizada na Rua da Carteira, em Osasco, assim denominada porque na época ali se fabricavam carteiras. Atualmente essa rua se chama Narciso Sturlini.

Naquela oficina realizou-se a maior parte do trabalho, mas depois os dois se transferiram para a “Garagens Reunidas”, na Rua Florêncio de Abreu, centro de São Paulo, onde concluíram a construção do aparelho.A montagem final aconteceu em Osasco.

Dimitri e Pellegatti realizaram algumas experiências com o motor, mas foram todas frustradas. Desiludidos, eles abandonaram o projeto por mais de um mês. Algumas peças dos cilindros eram muito delicadas e precisaram ser substituídas para que o motor funcionasse de forma satisfatória. Durante vários dias eles realizaram novos testes e, depois de um trabalho exaustivo tanto na colocação como na regulagem dessas peças, conseguiram alguns resultados positivos.

No dia três de janeiro de 1910, Sensaud de Lavaud, Lourenço Pellegatti e outros auxiliares que, entusiasmados, haviam se associado aos dois naquela tarefa, viram finalmente o motor funcionar ininterruptamente por duas horas.

A máquina, que batizou de São Paulo, decolou e percorreu 103 metros em seis segundos e 18 décimos, oscilando entre dois e quatro metros de altura. A conquista lhe rendeu o título de primeiro piloto do continente sul-americano a levantar vôo numa máquina mais pesada do que o ar, construída com projeto, mão de obra e matéria-prima totalmente nacionais. O assunto, festejado na época, apagou-se com o tempo, e poucos registros restaram de sua trajetória na aviação.

Até 1920 ele iria tentar mais três vôos no Brasil com duas aeronaves diferentes – sem sucesso. Uma invenção casual, no entanto, transformou sua vida. Ao tentar consertar o primeiro avião, num golpe de sorte, Lavaud descobriu uma forma de fabricar tubos em larga escala. A invenção foi patenteada, e ele criou a Companhia Brasileira de Metalurgia, que o tornou milionário.

Além de aviador, Dimitri foi um inventor prolífico e um personagem importante do Século XX. Com mais de mil patentes registradas, ele revolucionou a indústria mundial de tubos metálicos e trouxe inovações a outras indústrias, como a automobilística e a própria indústria da aviação. Em 1927, em Paris, ele fabricou o Sensaud de Lavaud, um carro com câmbio automático, invenção que só iria se popularizar nos automóveis em fins do Século XX.

Preso pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, Dimitri foi acusado de colaborar com o regime de Adolf Hitler. Mesmo após ser inocentado, nunca recuperou a alegria de viver. Deprimido e empobrecido, Dimitri morreu em 1947.

A Santos Dumont, o tempo deu glórias, afinal Paris era Paris.

A Lavaud, só coube o esquecimento.

Lourenço Pellegatti, o mecânico

Lourenço Pellegatti nasceu no dia 24 de fevereiro de 1891
em São Paulo. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Foi um dos indicados para trabalhar na construção das grades do Teatro Municipal de São Paulo, o que sempre lhe trouxe grande orgulho.

Recebeu uma medalha de honra por ter sido um dos heróis da Primeira Guerra Mundial.

Durante muitos anos esteve à frente de uma indústria de máquinas têxteis de sua propriedade, no bairro da Lapa. No final dos anos setenta, a fábrica possuía um departamento de fundição de peças onde todo o material utilizado na montagem das máquinas era fundido. Assim, os filhos trilhavam os mesmos caminhos do pai.

Contudo, a importância de Pellegatti para a história é a de ser não apenas o mecânico, mas o amigo que acompanhou Dimitri do início ao fim daquela epopéia.

O Chalé Brícola

Plantado entre árvores, o Chalé Brícola, onde hoje está instalado o museu “Dimitri Sensaud de Lavaud”, nos remete a um passado que o glorifica.

É um casarão antigo, construído por Giovanni Brícola em 1890, muito luxuoso para a época. A memória do primeiro proprietário está presente nas portas de entrada e nas janelas que dão para o fundo do casarão com as iniciais do seu nome
em metal. Giovanni Brícola residiaem São Paulo e o utilizava como casa de campo.

Na época de sua inauguração era cercado de árvores frutíferas entre elas muitas pereiras; Árvores que perduraram até o início dos anos sessenta. Antigos moradores o descrevem como uma construção muito bonita, pintada
em vermelho Veneza, com portas em pinho de Riga e uma belíssima pia de porcelana pintada à mão e a frente cercada com grades de ferro. Tanto as grades assim como algumas daquelas portas originais foram roubadas.

A família Sensaud de Lavaud foi a segunda a residir ali. Algumas pessoas que conheceram o chalé naquela época, bem antes dos danos que sofreu, falam da beleza que era ver os jovens filhos do barão cavalgando nas terras que o rodeavam e que hoje se resume a uma pequena área em torno do museu.

Durante alguns anos ele ficou abandonado, à mercê de vândalos que o invadiram e destruíram grande parte do que nele havia. Moradores de rua ali se reuniam e, nas noites frias acendiam fogueiras no assoalho para se aquecerem. Com isso, destruíram grande parte do piso original. Algumas cenas de um dos filmes do cineasta Zé do Caixão foram realizadas ali.

Em 2006 iniciou-se o processo de restauração do chalé, com um curso de restauração para jovens e adolescentes. Hoje restaurado o casarão adquiriu uma aparência próxima da que tinha quando Dimitri ali viveu.

Fontes:

Jornal O Estado de São Paulo 19/02/1911;
O Primeiro Vôo da América do Sul 1969-1970 – Helena Pignatari Werner” Tese de
Mestrado;
Revista Realidade – Editora Abril - Dez. 1973 –
Robert Sensaud de Lavaud e Lourenço Pelegatti, - Entrevistas concedidas à Risomar Fasanaro, José Pessoa e Rômulo Fasanaro;
Correspondência familiar: Acervo Robert Sensaud de Lavaud
Edison Veiga/O Estado de S.Paulo - Foto: Museu Sensaud de Lavaud

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