25.8.10

Biografia de Bertrand Russell

Introdução sobre Bertrand Russell


Bertrand Russell
Um dos grandes pensadores do século 20 foi movido durante toda a sua vida pela busca do conhecimento, pelo desejo de amor e por uma compaixão pelo ser humano. Essas três forças deram a Bertrand Russell uma vida longa e agitada durante o século em que a humanidade vivenciou transformações notáveis.

Com uma perspectiva filosófica enraizada na lógica e no empirismo, posições liberais avançadas e um Prêmio Nobel na bagagem, Russell foi uma figura polêmica, amado e odiado, que chegou a ser preso duas vezes por sua atuação política. Seus pensamentos filosóficos mais profundos procuraram responder sobre como ter certeza de que o que afirmamos saber é verdade ou não e se um conhecimento preciso como a matemática repousa sobre algum fundamento lógico seguro.

Na busca por essas respostas, Russell não só produziu uma importante obra na epistemologia, na matemática, na lógica e na filosofia política, como também foi o mentor e o incentivador de outro importante filósofo do século 20, Ludwig Wittgenstein.

Russell e as regras da matemática

Bertrand Russell afirmou durante uma palestra que romper as regras da matemática traz consequências desastrosas. Segundo ele, ao se introduzir uma afirmação matemática falsa, pode-se provar qualquer coisa. Alguém da plateia, então, o provocou: “se dois vezes dois forem cinco, o senhor deve ser capaz de mostrar que eu sou o papa. Prove isso!”. Russell não titubeou e demonstrou: “se dois vezes dois são cinco, então quatro é igual a cinco. Subtraindo três de cada um dos lados, temos que um é igual a dois. Como o senhor e o papa são dois, temos que o senhor e o papa são um”.


Conheça nas próximas páginas um pouco da vida e da obra de Bertrand Russell.

Bertrand Russell
Reprodução

Este artigo é um resumo do livro “
Bertrand Russell em 90 minutos”, de Paul Strathern, da coleção “Filósofos em 90 minutos” da Jorge Zahar Editor, publicado em 2003.

Bertrand Russell e o rigor lógico

Bertrand Russell
Enciclopédia Delta Universal
Bertrand Russell
A Guerra Civil Americana mal terminara eNietzsche estava no auge de sua produção intelectual quando Bertrand Russell nasceu em 18 de maio de 1872 em Trelleck, na fronteira do País de Gales. Era uma época de apogeu do Império Britânico e Russell pertencia a uma família aristocrática da Inglaterra Vitoriana. Mas sua primeira infância foi marcada por tragédias. Antes dos cinco anos de idade já tinha perdido a mãe, o pai e a irmã. Ele e seu irmão mais velho foram criados pelos avós paternos. Lord Russell, o avô deles, havia sido primeiro-ministro britânico em duas ocasiões e a chegada dos irmãos Russell mereceu até uma carta da Rainha Vitória parabenizando Lady Russell.

Bertrand recebeu sua educação em casa por meio de tutores e isolado de outras crianças enquanto seu irmão mais velho foi enviado ao colégio. A solidão de Bertrand começou a ser quebrada quando ele tinha 11 anos de idade e seu irmão Frank decidiu lhe ensinar geometria. A beleza abstrata da matemática o encantou e o ajudou a afastar a idéia do suicídio que frequentemente lhe vinha à cabeça. Russell acreditava que o mundo abstrato da matemática lhe daria a certeza que lhe faltara nos primeiros anos de vida. Aos 16 anos Russell foi para um internato em Londres fazer um curso preparatório onde passou dois anos. Em 1890, ganhou uma bolsa de estudos para o Trinity College, em Cambridge, onde Isaac Newton havia estudado e dado aulas.

No período em Cambridge mergulhou nos estudos da matemática, mas o nível do ensino o decepcionara e no quarto ano voltou-se para a filosofia. Suas primeiras influências foram a metafísica e o idealismo de Hegel. Pouco antes de ir para Cambridge, Russell havia se enamorado por Alys Pearsall Smith, uma quacre americana cinco anos mais velha, e quando ele completou 21 anos se casaram contrariando a opinião de Lady Russell. Ao se formar em filosofia, Russell foi eleito
fellow do Trinity College, um cargo que lhe deixava como obrigação apenas pesquisar. Nesse período, Russell e Alys viajaram pela Europa e passaram um longo período na Alemanha, onde Russell escreveu o livro “Socialdemocracia Alemã”, revelando seu novo interesse: a política.

Na volta a Cambridge, Russell percebeu que o idealismo de Hegel não dava conta da realidade da experiência física e adotou uma visão empírico-materialista do mundo. Ele decidiu também enfrentar uma questão que lhe incomodava desde que seu irmão o apresentou à geometria euclidiana e seus axiomas: como se poderiam descobrir os princípios fundamentais sobre os quais se erguia a matemática? Após conhecer o matemático italiano Giuseppe Peano e sua proposta de trabalhar os fundamentos do número, Russell ficou entusiasmado pelo
rigor lógico e acreditou que aquilo o ajudaria a desenredar os princípios básicos da matemática. Em 1903, ele publicou a obra “Os Princípios da Matemática” que o consagrou como um pensador de primeira grandeza, notadamente na Europa. Mas Russell não estava contente. Pretendia escrever um segundo volume no qual firmaria sua argumentação na forma mais precisa dos símbolos lógicos.

Durante dez anos, Russell e seu professor de matemática em Cambridge, Alfred North Whitehead, desenvolveram o projeto que pretendia mostrar que a lógica é a juventude da matemática e a matemática é a maturidade da lógica. No meio desse caminho, encontraram uma falha que atingia o núcleo da argumentação lógica deles, que ficou conhecida como paradoxo de Russell. Levaram anos para superá-lo e não o conseguiram fazer completa e satisfatoriamente. Ainda assim, a obra “Principia Mathemática”, que foi o resultado desse esforço hercúleo publicado em três volumes a partir de 1909, foi recebida como um marco na história do pensamento e influenciou profundamente a investigação matemática, científica e filosófica por toda a Europa.

Bertrand Russell e a filosofia política

Enquanto se dedicava à obra “Principia Mathemática”, o que lhe foi mentalmente desgastante, Bertrand Russell enfrentava também uma crise em seu casamento com Alys. Ao se dar conta de que não amava mais a esposa, ele se sentiu no dever moral de informá-la disso. O casal passou quase uma década de tormento na relação até que se separaram definitivamente em 1911. Durante esse período, Russell se apaixonou e desapaixonou-se diversas vezes. Uma de suas mais duradouras amantes foi Lady Ottoline Morrell, a exótica esposa de um amável e liberal membro do Parlamento britânico.

Em 1911, além da separação de Alys, outro acontecimento teria forte impacto sobre Russell. Um jovem herdeiro da mais poderosa família industrial do Império Austro-Húngaro apareceu nos aposentos de Russell em Cambridge disposto a discutir suas ideias lógicas sobre os fundamentos da matemática. Seu nome era Ludwig Wittgenstein e Russell ficou impressionado com aquele impetuoso jovem de empertigadas maneiras vienenses. Wittgenstein passou a visitar Russell e bombardeá-lo com questões desde se devia cometer suicídio ou tornar-se um filósofo. Russell havia decidido guiá-lo pacientemente em sua busca da lógica como se fosse o Santo Graal. Ele foi o mentor do jovem filósofo que fundou seus pensamentos na lógica e na linguagem e que, anos à frente, discordaria radicalmente de Russell.

Desde o início de sua busca pelo conhecimento, Russell almejava reunir filosofia e ciência, como havia sido feito na Grécia antiga. Mas ao passar dos 40 anos e devido aos ataques de Wittgenstein, Russell decidiu que a filosofia se tornara difícil demais para ele. Abandonou a ideia de construir uma filosofia original abrangente e procurou desenvolver uma filosofia popular. A primeira obra dessa nova fase foi “Os Problemas da Filosofia”, publicada em 1912. Passou também a ser um ativista político o que lhe custou o emprego em Cambridge, após se envolver em protestos pacifistas. Em 1918, passou seis meses preso em Brixton e nesse período de solidão escreveu o livro “Análise da Mente”. Ao sair da prisão manteve seu ativismo, seus princípios liberais e seus casos amorosos, entre eles um com Vivien Eliot, a mentalmente instável esposa do poeta T.S.Eliot. Em 1919, conheceu e casou-se com a jovem e independente Dora Black, de 25 anos. Viajaram para a União Soviética para verem de perto o resultado da revolução bolchevique. Russell não só não se impressionou com Lênin, com quem teve uma audiência particular, como também ficou horrorizado com os efeitos da revolução, o que resultou na obra “Teoria e Prática do Bolchevismo”, uma crítica contundente ao que vira.

Em 1933 Russell, com 63 anos de idade, já separado de Dora e recém-casado com sua assistente de pesquisa de 25 anos, mudou-se para os Estados Unidos. Lá escreveu “História da Filosofia Ocidental”, livro que se tornou um best-seller e é até hoje considerada uma das melhores obras sobre o assunto. Em 1944, ao retornar a Grã-Bretanha foi reconduzido à condição de
fellow do Trinity College e considerado um “sábio nacional”. Em 1950 recebeu o Prêmio Nobel de literatura, por ser um “apóstolo da humanidade e da livre expressão”, segundo a BBC. Em 1961 voltou a ser preso, com 89 anos de idade, em um protesto contra as armas nucleares. À medida que ficou mais velho sua militância se intensificou. Nos anos 60 foi um dos principais opositores à Guerra do Vietnã e um atuante pacifista. Russell morreu em 1970, com 97 anos de idade.

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