30.11.11

Um breve histórico das Dinastias Chinesas

1. Período Neolítico (a partir de 5000 A.C.)

Sociedade agrícola, com bases matriarcais. Nas vastas planícies, as comunidades tribais procuravam instaurar no cotidiano, a mesma norma divina que pressentiam existir ao observarem o céu iluminado de estrelas toda a noite.

Métodos modernos trouxeram à luz, que não houve apenas uma única cultura que deu surgimento a todas as outras culturas que se seguiram na bacia do Rio Amarelo. Hoje se pressupõe que existiram muitos sítios por toda a China, e que cada um desenvolveu sua própria cultura. O comércio e as inter-relações criaram uma mistura de achados em toda a área, o que faz pressupor que existiu uma cultura predominante sobre todas as outras, o que não é verdade.

Duas culturas principais na tardia China pré-histórica são: Cultura Longshan 龍山文化 em Shandong e a Cultura Liangzhu 良渚文化 em Zhejiang.

4000 a 3000 A.C. - Vilarejos agrícolas nos vales do rio Amarelo, cerâmicas pintadas.

No Feng Shui - os traços mais antigos de seu simbolismo foram encontrados em uma tumba do período neolítico escavada em 1988 na província de Henan na China, que data de cerca 4000 A.C. A tumba está orientada com sua face (da lápide) voltada para o sul, a direção da cabeça redonda (simbólico de Tian ou T’ien, o céu). A ponta norte da tumba é quadrada (simbólico de ti, a terra). Do lado leste temos a imagem de um dragão e a oeste a imagem de um tigre, representando dois dos quatro animais celestes do Feng Shui. A constelação da Ursa Maior, que é muito significativa na astrologia chinesa e também no Feng Shui, está traçada no centro da sepultura. Isso significa, (embora não seja uma prova) que o Feng Shui já existia por volta de 4000 anos A.C., e que os símbolos do Feng Shui são anteriores a qualquer religião formal da China, como o confucionismo, budismo e até mesmo o Daoísmo.

3000 a 2000 A.C. - Cultura Yangshao e Cultura Longshan. Vasos encontrados em Yangshao e em Lungshan na província de Shandong. Adoração aos antepassados.

2.三皇 - San Huang (Três Reis) - c. 2852 – 2205 A.C.

Fu Xi 伏羲 (em pinyin Fu Xi e em wade-giles Fu Hsi) - foi o primeiro dos três reis nobres (ou míticos) e foi também conhecido por T’ai Hao (o grande iluminado), Pao Hsi ou Mi Hsi. De acordo com a tradição, ele reinou de 2952 a 2836 A.C. (116 anos) ou de 2852 a 2737 A.C. (115 anos) segundo fontes diferentes. Fu Xi é representado como um ser humano com o corpo de uma serpente. Nos templos Daoístas ele é geralmente retratado com um painel no qual estão desenhados os oito trigramas. Sua esposa (e irmã) era Nü-gua 奴冎(Nü-kua, Nu Kwa ou Nuwa) a deusa que criou os primeiros humanos da terra amarela, logo após a separação do Céu e da Terra. Fu Xi ensinou à humanidade muitas artes, como usar a rede de pesca, a criação do bicho da seda, a domesticar animais selvagens. Ele criou a música, o Tai Ji (o yin e yang), os oito trigramas (esses últimos seriam supostamente a base da escrita chinesa) e os 64 hexagramas. Surge a primeira constatação de um código celestial que refletia a perfeição da Criação. Essa inscrição, localizada no dorso do chamado Cavalo-Dragão, foi denominada de He Tu (Ho Tu), ou Mapa do Rio.

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Fu Xi (Simbólico)

Fu Xi

Rio Huang He (Rio Amarelo)

Cavalo-Dragão (Qi Lin)

He Tu

3. 五帝 - Wu-di ou Wu-ti (Cinco Imperadores) de 2697 – 2205 A.C. ou 2674 – 2184 A.C.

Os Cinco Imperadores são: Huang di, Juan Xu, Gu, Yao e Shun.

Huang-Di

Yao

Figura 1.3

Huang-di ou Huang-ti 皇帝 (Imperador Amarelo) foi um dos reis lendários que se tornou mestre do conhecimento das formas da terra. Seu momento histórico varia de 2697 – 2597 A.C. ou 2674 - 2575 A.C. Ele é venerado como um dos fundadores do Daoísmo religioso (tao-jiao). A ele atribui-se o livro Huang-di nei-jing, o primeiro tratado de medicina da história da China. Atribui-se a Huang di os 12 Ramos Terrestres, os10 Troncos Celestes e o Ciclo Sexagenário (chia-tzu) cerca de 2736 A.C. (mesmo que um sistema similar já estivesse em uso na Babilônia muitos séculos antes).

Yao - foi um dos cinco imperadores, a ele atribui-se o estabelecimento do calendário, a introdução da responsabilidade pelo uso apropriado das quatro estações do ano, os postos oficiais.

4. 夏 Xia (Hsia, Hia) cerca de 2205 – 1765 A.C. - A Primeira Dinastia

O sentido de ordem Celestial foi instaurado ao se compreender o papel do Centro do Universo, local onde tudo surgiu. A Estrela Polar tornou-se o pilar essencial, pois em volta desse eixo girava a haste de sete Estrelas que formavam a Constelação da Grande Ursa Maior, ou Bei Dou. Constituía-se assim a Era de Ouro (Shu Da Yao), em que a Figura dos três Reis-Xamãs Yao, Shu e Da Yu representavam a compreensão das forças da Natureza. Segundo a lenda, Yao tinha a capacidade de “voar” para as outras galáxias, enquanto que Shu tinha total acesso às esferas celestes. Este último transmite todo o conhecimento oculto ao filho Da Yu, que posteriormente recebeu o título de Detentor do Poder sobre as Águas. Conta-se que no casco da Tartaruga-Sagrada do Rio Lo (Luo), Da Yu enxergou um código que mostrava o fluxo da energia terrestre. A esse esquema foi dado o nome de Lo Shu, ou Mapa do Mundo Manifestado.

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Ursa Maior

Rio Lo (afluente do Amarelo)

Lo Shu

Da Yu, além de introduzir o bronze na China, teria sido o fundador da Primeira Dinastia, denominada deXia (2200-1765 A.C.), quando conseguiu conter as inevitáveis enchentes de Huang He (rio Amarelo), salvando o povo, e ensinando às primeiras comunidades nômades o segredo da sazonalidade, dividindo o território em nove províncias com atribuições específicas, nessa fase foi dada origem aos estudos dos fluxos espaço-temporais dos Ventos (Feng) e das Águas (Shui). É nessa fase que surge o primeiro Livro das Mutações, denominado de Lian Shan.

De acordo com os Escritos Sagrados, Da Yu, além de Mestre-Agrimensor e Mestre da Forja, era um Imortal que entendia perfeitamente a linguagem dos animais. É uma das primeiras referências à tentativa de estabelecer um paralelo entre o Comportamento dos Bichos e o Homem (uma outra citação sobre o tema remete aos tempos de Fu Xi).

Outra lenda diz que teria sido no seu período que a primeira bússola foi inventada, consistindo de uma pedra de propriedades magnéticas presa a uma carruagem, diz-se que tornou seu exército invencível, a foto de uma replica pode ser vista ao lado, mas ninguém pode provar que ela realmente existiu e qual o seu uso.

5. Shang (Chang) de1766 – 1121 A.C. (XVII – XI séc. A.C.)

Sociedade baseada na agricultura e na mão–de-obra escravista. Cultura luxuriosa e selvagem, onde rituais, sacrifícios e cultos em nome dos ancestrais e forças da natureza eram comuns; inscrições arcaicas encontradas nos cascos de tartarugas e ossos revelam, além do desenvolvimento de um sistema de escrita, princípios oraculares, que posteriormente seriam evidenciados nos Escritos Sagrados Kuei Tsang, ou O Livro das Mutações de Shang, uma das bases do conhecido Yi Jing.

O primeiro indício da astrologia chinesa remonta à Dinastia Shang com uma grande coleção de “ossos do dragão” (oráculo de ossos) – uma escápula usada pelos antigos adivinhadores. Esse método era chamado de Buzhai. Embora os métodos de adivinhação não fossem, em si, astrológicos, eles demonstravam que os chineses estavam registrando os céus de forma sistemática há mais de 4 mil anos. Além disso, esses oráculos eram consultados em dias precisos, mostrando que eles já utilizavam os ciclos cósmicos.

Na Dinastia Shang os chineses usavam o relógio de sol para estabelecer as direções e as horas do dia, e durante a noite a estrela do norte (Polaris) para estabelecer as direções. Usava-se um ciclo de sessenta dias. O movimento das constelações foi organizado nos dez Troncos Celestes e nos Doze Ramos Terrestres. Cada dia era designado pela combinação de um tronco e um ramo, tomados segundo uma ordem especifica. O ciclo de sessenta dias era aplicado ao ano de modo que cada ano de 360 dias tinha seis ciclos.

6. 周Zhou (Chou, Tchéu) de 1122 – 221 A.C.

Essa Dinastia é comumente separada em:

Rei Wen

Duque de Chou

周Zhou 東Ocidental de 1122 – 770 A.C.: Considerado o período dos reis sábios, caracterizou-se pela paz interna. O conceito de mandato celeste, ou seja, o direito divino de comando por parte dos governantes foi reforçado, sendo que a queda de um governo simbolizava a perda desse comando oferecido pelos deuses maiores.

Ki Ch’ang, que depois veio a ser conhecido como Rei Wen, derrubou a Dinastia Shang e fundou a Dinastia Zhou. Em suas mãos, o He Tu e o Lo-shu tornaram-se instrumentos poderosos para a previsão do curso dos acontecimentos. Ele usou seus conhecimentos da natureza cíclica do universo para desenvolver os oito trigramas em 64 hexagramas (os chamados Julgamentos).

Os historiadores têm conhecimento da existência de três Yi Jings. O Lian-shan-i da Dinastia Xia atribuído a Yu. O kuei-chuang-i, que teria sido escrito pelo primeiro imperador da Dinastia Shang (c. 2200 A.C.). O Zhou-i foi escrito por volta de 1100 A.C. pelo rei Wen, influenciado pelo seu ministro Kiang Sheng. O I Ching que temos hoje é formado por fragmentos do Zhou-i reunidos por Confúcio no século VI A.C. Dos dois anteriores as únicas referências ainda existentes são históricas.

Os Troncos Celestes foram combinados com os Cinco Elementos e os Doze Ramos Terrestres foram aplicados aos doze meses do ano solar, durante essa fase.

周 Zhou 西 Oriental: um sistema hierárquico tanto político quanto social com a casa real Zhou no seu ápice. O poder era concedido para famílias aristocráticas como senhores de seus domínios e principado. Mesmo que freqüentemente comparado com o feudalismo europeu, o que na realidade deu ao sistema sua coesão foi uma ordem hierárquica de cultos ancestrais. O sistema rompeu-se com a competição por poder entre estados rivais semi-autônomos, o que se tornou conhecido como períodos de Primavera e Outono (722-481) e dos Estados Litigantes (403-221).

春 Chun 秋 Qiu - Período de Primavera e Outono 770 – 476 A.C.: foi nesse período que os elementos do Feng Shui foram se juntando e supõe-se que já naquela época o mesmo já existia como uma disciplina específica. Uma forma embrionária de Feng Shui surgiu nessa Dinastia, chamada de “Zhai Bu”. Ela determinava a sorte de uma habitação, era usada para descobrir se havia uma nascente subterrânea sob a sepultura.

Surgiram termos, que podem ser considerados como os primeiros termos para o que chamamos hoje de Feng Shui, como:

Xiang Di – observação e análise da terra (geografia).

Xiang Zhai – observação e análise das habitações (ambientes).

Qing Niao Shu – a arte do corvo ou pássaro azul (referindo-se ao movimento do sol).

Em termos arquitetônicos cresceram as cidades-estado guerreiras, sendo comum a construção de muros nas aldeias e os projetos imperiais seguiam regras geomânticas e ritualísticas; o local exato do imperador era fixado e mudado conforme as correspondências astrológicas e as estações do ano. A evolução desse movimento circular ao redor de um edifício central descreve um dos conceitos mais importantes do Feng Shui, o Ming Tang (hall luminoso).

Evidências arqueológicas mostram que nessa época os chineses escolhiam moradias com essas características (práticas que se desenvolveram na disciplina Xiangdi):

- uma plataforma elevada ou um terreno relativamente mais alto.

- proximidade de um curso de água ou uma fonte de água limpa.

- solo bem drenado e sólido.

- um ambiente pacífico, circundado de árvores e com transporte fácil.

Essas práticas se desenvolveram em uma disciplina chamada Xiangdi (observação e análise da

Confúcio Chuang Ze

terra). Por volta de 600 A.C., doze símbolos animais foram

associados aos Doze Ramos Terrestres. Desse modo na Era da Primavera e do Outono, a bússola, o Yi Jing e o calendário – os três fundamentos de todas as artes divinatórias – já estavam plenamente inseridos no contexto das ciências chinesas.

Foi nesse período também que Confúcio (Gong Fu Ze ouKung Fu-Tze) nasceu em 551A.C., que houve o florescimento da literatura clássica, artes e filosofia; confucionismo, Daoísmo. Lao Ze e Chuang Ze viveram nesse período. Surgiram então as bases que culminariam na divisão do conhecimento em Tradição invisível – compreensão dos Mistérios do Universo (Mi Djun) e visível – Harmonia do Mundo Cotidiano (Shien Djun). Alquimia interior, meditação e técnicas de respiração foram desenvolvidas.

Figura 1.9

戰 國 Zhan Guo - Período dos Estados Litigantes de 475 – 221 A.C.: nessa fase foi encontrado um artefato que demonstra o uso dos símbolos do Feng Shui. Estavam desenhados na tampa de uma caixa de 430 anos A.C., que foi escavada em Leigudun na província de Sui, Hubei. Os lados da caixa têm um dragão e um tigre, que são símbolos do Feng Shui e da astrologia chinesa, mas o mais significante é que no centro temos um círculo das 28 mansões lunares, que geralmente faz parte de um dos anéis das Luo Pans (bússolas Chinesas), na tampa, há a palavra “dou”, que representa a constelação da Ursa Maior. Somado a esse fato, observaram-se referências concretas sobre o Zodíaco Chinês e manuscritos astrológicos que ligavam as enchentes e secas na agricultura ao posicionamento das constelações no céu.

Segundo algumas fontes é nessa época que se manifesta o Nei Jing (400 A.C.), o primeiro compêndio de medicina chinesa que explica detalhadamente a teoria milenar do Wu Xing.

Figura 1.10

Nessa época um jogo denominado Liu Bo fornecia um mapa esquemático celestial, indicando o primeiro conceito de ordem divina aplicado à sociedade. Esse tabuleiro veio dos conceitos do astrolábio Liuren (Shi) que provavelmente já existia nessa Dinastia, embora só existam provas consistentes da sua existência nos tempos de Qin.

O conhecimento da bússola foi ampliado na Dinastia Zhou pelo imperador Shing, neto do Rei Wen. Ele associou o conhecimento da bússola ao do Yi Jing e constituiu um sistema de adivinhação terrestre e celeste. Trata-se do legendário Lo-ching, que não chegou até nós. Lo significa “que abarca todo conhecimento do céu e da terra” e ching (Jing) significa “clássico”.

No terceiro século A.C. constava de um dicionário chinês da Dinastia Zhou a descrição da escolha de sítios de acordo com conceitos do Feng Shui (onde fazia-se referência à simetria, equilíbrio, hierarquia das alturas e orientações favoráveis). Também nos livros Shujing (o Livro dos Documentos) e Shijing (o Livro das Canções) constavam a escolha de sítios para novas cidades.

Kuei-Ku Tzu viveu na era dos Estados Litigantes (c. 220 A.C.). Foi mestre das artes divinatórias, da estratégia militar e da diplomacia. Assim como da astronomia (a ciência do céu), geografia (a ciência da terra), metalurgia e tecnologia militar. Haviam rumores de que ele praticava as artes da longevidade e possuía poderes mágicos. Foi um dos grandes expoentes da filosofia da vertical e da horizontal (teoria sobre a diplomacia) e mestre da escola do yin e do yang. Deixou três tratados. Podemos dizer que ele foi o predecessor espiritual dos fang-shih (especialista nas técnicas esotéricas), que surgiram cerca de cem anos depois durante as eras Qin, dos Han e dos Três Reinos. Segundo a lenda, ele morava num lugar chamado Vale dos Espíritos e foi mestre de alguns dos maiores estadistas dos estados feudais da China daquela época.

7. Qin (Chin, Tsin) de 221 – 205 A.C.

Dinastia vigorosa, mas muito curta. Em 221 A.C., ocorreu a unificação do território chinês, quando a fronteira oeste de Qin (o mais agressivo dos Estados Litigantes) subjugou o último do estados rivais. Autoproclamando-se como um Ser Divino (Shi Huang Di), o novo Rei impôs um governo altamente centralizado e burocrático, baseado na repressão e retaliação de conceitos filosóficos que pudessem criticar o governo (queima dos escritos sagrados ancestrais e perseguição aos confucionistas). Os Qin caíram frente às revoltas sociais, que se tornaram insuportáveis após a morte do primeiro imperador, em 210 A.C.

Para impedir a invasão bárbara, nesse período foram iniciadas construções de muros fortificados ligando os vários Estados Litigantes, que no futuro se denominaria A Grande Muralha.

Zhang Liang (ou Chang Liang) foi um dos mais famosos entre os primeiros fang-shih. Nascido no fim da era dos Estados Litigantes, atravessou o governo da Dinastia Qin para fundar a Dinastia Han. Aprendeu as ciências militares, a magia e as artes divinatórias. Seus contínuos sucessos militares eram atribuídos à capacidade de conhecer o momento certo para fazer a manobra militar correta. Era discípulo de Huang Shi Gong (ou Ch’ing-su Tzu), mestre Pinheiro Vermelho, que foi um dos maiores santos Daoístas.

No Feng Shui, desenvolveu-se o Dimai, ou o estudo das veias do dragão (caminhos energéticos terrestres). O conceito de ‘Dimai’ foi estudado pelos antigos geógrafos. Refere-se aos picos e vales das cadeias de montanhas.

Foi desenvolvido todo ritual dos funerais e começou-se a selecionar os lugares mais auspiciosos para os ancestrais. Eram enterrados com suas cabeças apontando para o oeste e a tumba com face leste. Talvez isso acontecesse porque a Dinastia Qin tendia a se expandir na direção leste, verso a costa e a localização de seu reino era no oeste da China, por isso eles enterravam seus mortos apontando para o oeste em respeito ao lar de seus ancestrais.

Além disso, a partir das bases do tabuleiro Liu Bo, dois diagramas chamados de Shi (usados para fins divinatórios) foram identificados. Essa é a referência mais antiga do que viria a ser a Luo Pan. E provavelmente na antiguidade era um instrumento astronômico.

Shi (Liuren Astrolábio) da Dinastia Qin

1ª figura frente e 2ª figura verso

Desenvolvimento da Shi

Nesse período os princípios do Feng Shui começam a tomar forma. Publica-se o Kan-yu-jin-kui (O Tesouro Dourado do Kan Yu). Este espalhou as sementes do Liqi Pai (escola da bússola) e tem início a separação entre Xing Shi Pai (escola das formas) e Liqi Pai. A teoria começa a exercer sua importância sobre a observação.

8. Han de 206 A.C. – 220 D.C.

Wang Mang

Após um período curto de Guerra Civil, uma nova Dinastia denominada Han subiu ao poder. Mantiveram-se alguns princípios governamentais instaurados pelos Qin, mas ocorreu uma mudança significativa no sentido social: o Confucionismo foi adotado como base filosófica-social do novo Império. Dois grandes inventos chineses, o papel e a porcelana, datam dessa época. Nesse período, houveram grandes expansões territoriais pelos militares, principalmente à Oeste (região de Tarim Basin – atual Xinjiang-Uyghur) e Norte (parte do atual Vietnam e Coréia). Após 200 anos, o governo de Han foi brevemente interrompido pelo rebelde Wang Mang – Dinastia Hsin (9-24 D.C), mas rapidamente restaurado por mais 200 anos (a chamada Han Oriental). Entretanto, o ciclo de prosperidade havia cessado. O crescimento descontrolado da população, colapso dos sistemas políticos regionais, e rivalidades políticas, resultaram na queda do Império.

No Feng Shui, a evolução relevante das técnicas ocorreu durante a Dinastia 漢 Han 西 Ocidental. Foi nessa época que os fang-shih tornaram-se uma força social e o Feng Shui, uma profissão reconhecida. Nas mãos dos mestres as artes divinatórias tornaram-se um ramo específico de conhecimento.

A teoria do yin e do yang e dos Cinco Elementos constituíam a base filosófica da adivinhação. Os trigramas e hexagramas do Yi Jing (I Ching) proporcionavam a estrutura necessária à prática. Teoria e prática eram amparadas, ainda, por um sofisticado sistema de referências, cujos elementos eram o calendário, a bússola e os registros terrestres e celestes.

O mais famoso dentre os fang-shih foi o Mestre Ch’ing Hu, pai da ciência do Kan Yu e autor de alguns dos primeiros textos sobre o Feng Shui dos locais de sepultamento.

Kan Yu (ainda não usava-se o termo Feng Shui) foi explicado pelo escritor da Dinastia Han Oriental Xu Shen (autor do Shuowen Jiezi) como: “Kan é o Tao do céu; Yu é o Tao da terra.” O Tao do céu indica os corpos celestes e o Tao da terra indica os princípios da terra.

No estudo do Feng Shui, dizia-se que olhar para cima para observar os corpos celestes (o movimento do Sol, Lua e estrelas) é uma parte menor, mas inclinar a cabeça para examinar a textura da terra (o terreno das montanhas, rios, água e terra) é uma parte maior. Esta é a razão pela qual Kan Yu era também chamado de Dili (Dili significa princípios da terra ou textura da terra). Por isso as primeiras gerações de livros sobre Kan Yu freqüentemente usavam Dili como um nome para Kan Yu.

O termo Kan Yu é mencionado no Huai-nan Tzu, livro que resume todos os conhecimentos Daoístas que Liu Na (ou Huai Zu / Tzu) adquiriu dos fang-shih. É bom lembrar que os livros sobre essa arte foram reunidos sem muito rigor metodológico numa seção do Han-shu (A História da Dinastia Han).

Durante a Dinastia Han houve o desenvolvimento da Shi denominada Shi Pan ou Si Nan 司南(composta de uma colher magnetizada que apontava para Bei Dou – Ursa Maior e a Estrela Polar – e um prato quadrado com inscrições na base, utilizado para cunhos divinatórios). Ela é considerada a bússola mais antiga em funcionamento no mundo. Na sua base encontram-se os 8 trigramas, os anéis das harmonias universais da Terra (Di Pan), do Céu (Tian Pan) e a Astrologia Lunar (28 Xius). No livro Han Fei Zi You Du Pian, diz-se que o rei usava a Lo Pan Si Nan para conhecer o Leste e o Oeste.

Na verdade, somente o prato foi encontrado, a colher foi associada a ele muito tempo depois, por isso não se pode afirmar se ela existiu realmente na antiguidade.

9. 三 國 San Guo Três Reinos (Wei / Shu / Wu) de 220 a 280 D.C.

Seis Dinastias de 265 a 589 D.C.

Período de grandes invasões no território chinês, principalmente pelos tibetanos, turcos e mongóis. Alguns desses povos estabeleceram-se no vale do rio Amarelo, o que resultou numa fecunda fusão cultural. Nesse ínterim, o Daoísmo (ou na realidade o Neo-Daoísmo, uma religião panteísta nativa baseada no Daoísmo, como alguns historiadores afirmam) e o Budismo oriundo da Índia difundiram-se como as grandes “filosofias” da época. Durante os Três Reinos, os políticos Cao Cao (Reino Wei), Zhunge Liang (Reino Shu) e Sun Qan (Reino Wu) se destacaram como exímios estrategistas. As façanhas dos três personagens estão detalhadas no romance Crônica dos Três Reinos.

No Feng Shui, Guang Ge (Reino Wei) foi um extraordinário mestre de Feng Shui. A ele atribui-se o Guia de Guang sobre os Princípios da Terra.


Guo Po

晉Jin (Chin) de 265 d.C – 420 D.C. (a mais significativa das seis Dinastias para o Feng Shui):

Nesse período viveu Guo Po ou Kuo-p’u (276-324) responsável por tornar Kan Yu um ramo autônomo de conhecimento no contexto das artes daoístas. Diz a lenda que ele foi um erudito, um poeta e um mestre das artes ocultas. Ele é reconhecido dentre os modernos praticantes do Feng Shui como o pai das artes geomânticas. Legou-nos tratados de geomancia sobre a seleção de locais de sepultamento – Livro dos Funerais ou Mortos (Ch’uang-shu ou Zhang Shu) e a avaliação da paisagem (Ch’ing-lung Ching ou Zhuan jing). Esses dois clássicos gozavam de larga popularidade na época. Diz a lenda que a arte do Xuan kong (técnica do Vazio Misterioso) nasceu a partir desse Grande Mestre.

O termo Feng Shui, pela influência do Livro dos Funerais, é citado pela primeira vez entre o povo e difunde-se assim, por todas as classes sociais. Os clássicos dizem: “Quando o qi cavalga o vento ele é dispersado; quando ele encontra a água ele é retido”. Por isso essa ciência antiga era chamada de Feng Shui.

南 北 朝 Dinastias Setentrionais e Meridionais 420 – 589 D.C.: Qin Nang Jing – nove volumes de livros de funerais no Saco Azul, Qin Wu Zi.

Sui Yang Ti

10. 隋 Sui de 581 – 618 D.C. e 唐 Tang (T’ang) de 618 – 907 d.C

O caos dos Três Reinos chegou ao final nas mãos de Sui Wen Ti. Este general de sangue misto reunificou os reinos do norte, conquistou a região sul, centralizou o governo e reformou as taxas de impostos. Com a morte do Rei, o filho Sui Yang Ti assumiu o comando, levando o Império à ruína econômica, política e militar nas expedições contra a Coréia. Numa luta pelo poder que resultou na morte de Sui Yang, uma ordem nova surgiu, pelas mãos do general Li Yuan. O Confucionismo e o Budismo tornaram-se as bases filosóficas do governo.

A Dinastia Tang é considerada como o auge da civilização chinesa, sendo até superior à Han. Estimulado pelo contato com a Índia e Oriente Médio, o império viu florescer a criatividade em muitos campos, como a literatura e a arte. A impressão em papel em grande escala foi inventada, permitindo que os escritos fossem mais acessíveis. Concursos públicos baseados nas regras sociais confucionistas se desenvolveram, e os oficiais do governo atingiram um grande status junto à comunidade, pois serviam de ligação entre o povo e a corte real. Em 751 D.C., em meio à instabilidade econômia, governamental e política da China, os árabes invadiram o império, iniciando a decadência que culminaria com o fim da Dinastia em 907, pelos guerreiros do norte. O que se viu nos 50 anos seguintes foi uma grande fragmentação, denominada como Cinco Períodos(907-960 D.C.) e Dinastia Liao (916-1125 D.C.). Esta última situava-se ao norte, e manteve-se isolada até o domínio dos Song do Sul, em 1125.

Introduziram-se os sistemas de exames imperiais, o que mudou a estrutura da sociedade chinesa para a meritocracia. Como resultado disso o Feng Shui evoluiu rapidamente. A prática da Teoria das Cinco Fases tornou-se popular. Existiam mais de 120 escolas diferentes usando a Teoria das Cinco Fases para encontrar um local para sepultura.

Qiu Yan Han (Chiu Yen Han), considerado um matemático do Feng Shui, escreveu Yu Han Bi Shu (O Livro Secreto das Cartas de Jade).

O Clássico das Moradias do Imperador Amarelo (Huang-di-zhai-jing) surgiu juntamente com o Guia de Guang aos Princípios da Terra, esses dois livros simbolizavam a maturidade do Feng Shui.

As técnicas do Kan Yu foram diferenciadas em Yin Zhai (estudos de túmulos) e Yang Zhai (para edificações).

O Feng Shui estruturou-se em duas vertentes: San He (incluindo os primeiros conceitos da Escola Ba Zhai) e San Yuan, separação que se tornaria explícita na Dinastia Song.

Nos tempos de Tang viveu o Mestre Yang Jun-Song (834-900) autor do Qing Nang Ao-Yu. Nesse livro mencionava-se que os segredos do Tempo-Espaço encontram-se no “Ai-Xing-Shu” (método da distribuição das Estrelas num diagrama) e que a relação Ci-Xong (energias yin e yang) e do Wu Xing (cinco ciclos do Qi) se expressavam no Xuan Kong. Entretanto, Yang nunca revelou como isso era feito.

Durante o período Tang surgiram diversas escolas de pensamento dentro do próprio Kan Yu. Algumas, como a de Yang Jun-Song (Yang K’un-sun), atribuíam às formas da paisagem (as veias do dragão, por exemplo) um papel central na adivinhação pela geomancia. Ele formalizou o Xing Shi Pai (escola da forma). Por ele ter vindo da região Jiangsi, a escola da forma também era chamada de Jiangsi Pai. Perito em todas as artes divinatórias, Yang gostava especialmente do Kan Yu e utilizou consideráveis esforços para pesquisar e desenvolver métodos de uso da bússola geométrica, avaliação da paisagem e escolha de locais de sepultamento.

Criação do Livro da Teoria dos Cinco Sobrenomes para selecionar locais para casas e sepulturas. Uso de Talismãs. Foi encontrado o espelho de Cobre Astrológico. Tempo das inscrições do Ba Zhai Ming Jing (Grande Espelho dos Oito Palácios).

11. 五 代 Cinco Períodos de 907 – 960 d.C

Ceng Wen Chan escreveu o Qing-Nan-Xu – prefácio do Clássico da Pasta (ou Saco) Verde.

12. Song (Sung) 960 – 1279 D.C.

O líder militar Chao Kuang Yin proclamou a nova Dinastia em 960. A característica marcante do novo governo foi manter as terras nas mãos somente do Imperador, ao invés de dividí-las em setores onde governadores poderiam se tornar muito poderosos. Houve reunificação da maioria das propriedades chinesas, e foi restabelecido o Confucionismo como filosofia-mestre. Historicamente, essa Dinastia é separada em Song do Norte (960-1127); e após a fuga forçada da corte real devido às invasões nortistas, passou a se chamar Song do Sul (1127-1279).

No Período Song foi notável o desenvolvimento marítimo. A partir do intenso movimento comercial e industrial das cidades, surgiu uma nova classe social – os mercantilistas, que renovaram os conceitos de prestígio e posição social. Culturalmente, os Song retomaram a visão de homem ideal dos Tang, mas agregaram intelectualidade, filosofia e consciência política baseada nos clássicos confucionistas. Enquanto isso, o Budismo declinava gradativamente, sendo considerado estrangeiro e pouco eficiente na solução dos problemas políticos e práticos do dia a dia.

Em 1206, a união de várias tribos mongóis sob a liderança de Gengis Khan ameaçava o Império. Pequim foi capturada em 1279, e Kublai Khan, seu neto, pôs um fim definitivo à Dinastia Song.

O desenvolvimento do Feng Shui foi muito grande nessa época. Nesse período temos:

· Sistema Leste-Oeste.

· Sistema das Estrelas Voadoras.

· Sistema Três Yuan, Nove Yun

· Três Ciclos e Nove Períodos.

· Desenvolvimento de 4 tipos de agulha de bússola, (Fingernail, molhada, seca e pendurada).

· Agulha de costura desenvolvida.

· Yuan – bússola da tartaruga magnética desenvolvida.

Método da Flor de Ameixeira foi desenvolvido por Shao Yong, assim como os arranjos quadrados e circulares para os 64 hexagramas.

A ascensão do Feng Shui como ciência sistemática nessa Dinastia, reflete-se no grande número de obras publicadas sobre o assunto, cerca de cinqüenta livros foram reunidos no Sung-shi (História dos Sung).

O Surgimento da Astrologia Zi Wei Dou Shu, atribuído ao filósofo taoísta Zhen Duan (Chen Tuan) ou com seu título Chen Hsi-i, data dessa fase. As artes divinatórias não seriam o que são hoje sem suas contribuições à compreensão do Yi Jing. Ele escreveu muitos tratados sobre o entendimento dos ciclos de mudança no universo.

Nessa Era houve outro grande mestre das artes divinatórias, chamado Shao Yung e conhecido também como Shao K’ang-chieh.

Com a sabedoria de Chen Hsi-i, Shao Yung, Chou Tun-i, Ch’eng Hao, Ch’eng I e Chu Hsi, as artes divinatórias passaram a relacionar-se muito de perto com as teorias das mudanças (I-hsüeh). O estudo da numerologia e da simbologia do ba-gua tornou-se uma ciência, que incluía também toda uma matemática da mudança. Na época dos Song do Sul o Feng Shui era praticado igualmente por Daoístas, budistas e neo-confucionistas.

Na região norte da China desenvolve-se uma tradição geomântica baseada nos estudos das montanhas, vales e rios, chamada San-He (Três Harmonias). No Sul, a tradição San-Yuan (Três Ciclos) cria uma outra metodologia, estruturada na dinâmica do Quadrado Mágico.

Um grande mestre da época, Wu Jiang-Luang ou Zhong-Xiang (?-1068), escreveu muitos livros astrológicos e de kan Yu, incluindo “Li Qi Xin Yin” (Princípios do Qi do Coração) e “A Exploração do Mestre Wu sobre o Qi”. Ele foi o mestre do famoso Jiang Da Hong.

Outros clássicos importantes são:

· “Huang-di Ba Zhai Jing” (O Clássico do Imperador Amarelo sobre os Oito Palácios).

· “Huang-nan-wang Jianji Ba Zhai Jing” (O Clássico dos Oito Palácios de acordo com o Rei Sulista Huai / Jiangsu).

· “Huang-shi-gong Ba Zhai” (Os Oito Palácios da Pedra Amarela do Homem Velho) firma essa escola como uma das mais famosas e populares na China.

Outros mestres de Feng Shui nessa Dinastia são Chen Xi Yi, Liao Jin Jing e Lai Wen Jun.

13. Yuan (Yüan) de 1279 – 1368 D.C.

A Dinastia Mongol durou menos de cem anos. Os herdeiros de Gengis Khan caíram rapidamente no século catorze, principalmente por não adotarem a língua chinesa e as tradições ancestrais. As altas taxas impostas pelo governo disseminaram revoltas em quase todas as províncias chinesas. Chu Yu-Chang, um ex-monge budista, tornou-se o líder da revolução que culminou na queda dos mongóis e na fundação da Dinastia Ming.

Nesse período, o Feng Shui ficou extremamente guardado, e pouco se tem notícia da evolução das técnicas.

14. 明 Ming de 1368 – 1644 D.C.

Império baseado nas transações comerciais com o Mundo Ocidental. Muitos Estados vizinhos considerados como não-chineses pelo governo foram obrigados a pagar tributos à Corte. Dispendiosos gastos com defesas territoriais enfraqueceram o tesouro real; quando os rebeldes tomaram a nova Cidade de Pequim, os Ming formaram uma união com os manchus para reforçar o exército. Uma grande rebelião tomou conta do Império quando os manchus se recusaram a sair do território. Os rebeldes forçaram o último rei a cometer suicídio, pondo fim à Dinastia.

Nascimento e período áureo do Mestre Jiang Da-Hong (grande Mestre de Xuan Kong) transmissor das técnicas secretas das Estrelas Substitutas para o discípulo Jian Tu. Já na tradição San-He são elaborados os clássicos sobre os aspectos formais das Montanhas, e direcionais dos rios (Shang Shui Long Pai – Estudo dos Dragões de Montanha e Água).

Lopan – bússola d’água em bronze

Dinastia Ming

1ª Lo Pan Dinastia Qin

2ª Lo Pan bússola d’água

em marfim – Dinastia Qing

Na Dinastia Ming, o Feng Shui modificou-se e fragmentou-se em diversas doutrinas e métodos. A classificação das montanhas foi simplificada para cinco tipos básicos e a dos vales para onze tipos. Só a montanha imediatamente atrás do local de sepultamento era considerada ao invés das diversas cadeias de montanha. Adotou-se o sistema das Três Eras e Nove Períodos. A Luo Pan que antes tinha 16 anéis e nessa época passou a ter 36.

Houve um aprimoramento da Escola Ba Zhai e do Ba Zi (Quatro Pilares do Destino).

Um clássico do Feng Shui escrito durante a Dinastia Ming teve grande influência e determinou o desenvolvimento do Feng Shui no decorrer das Dinastias Ming e Qing. Ti li yin-tzu shiu-chih (A Essência do Reconhecimento das Formas Terrestres), foi o primeiro de toda uma série que apresenta exemplos de locais de sepultamento “bem-sucedidos”.

No final dessa Dinastia multiplicaram-se os livros sobre Feng Shui. Todos tinham acesso aos clássicos ou as suas imitações populares. Por causa disso a prática do Feng Shui foi aviltada pela auto-prática após a simples leitura e a exploração das massas supersticiosas. O Feng Shui adquiriu nessa época uma imagem tão ruim que até hoje temos o provérbio: “os mestres de Feng Shui podem enganar você por oito ou dez anos” – ou seja, você vai demorar bastante tempo para saber que foi vítima de um charlatão. O Feng Shui tornou-se contraditório, confuso e desnecessariamente complicado.

15. Qing (Ch’ing) 1644 – 1911 D.C.

Os manchus chegaram ao poder no século XVIII, quando controlaram a Manchúria, Mongólia e Tibet, além de invadir as principais províncias chinesas. A Rebelião de Taiping (1850-1864), considerada como a mais sangrenta da história chinesa, enfraqueceu as bases de comando. Nas últimas décadas do século XIX, governantes estrangeiros, principalmente europeus e americanos, obtiveram o controle de partes do território chinês. Um líder revolucionário, Dr. Sun Yat-Sen, pôs fim ao já frágil Império Manchu.

Qian Long

1711 a 1799 – D.C.

O Feng Shui praticado durante a Dinastia Qing foi uma reação ao Feng Shui desmoralizado da era Ming tardia. Todos os maiores textos de Feng Shui da época foram críticas dos textos Ming. Como exemplo temos P’ing-yang ch’üan-shu de Yeh Chiu-hsing. Na opinião deste último, os praticantes de Feng Shui da Dinastia Ming eram charlatões e não tinham a menor compreensão da teoria das mudanças.

No Kan Yu, a Escola Xuan Kong Fei Xing (Vazio Misterioso das Estrelas Voadoras) tem seu apogeu, especializando-se nos estudos “temporal” das construções, e diferenciando-se da base, a Tradição San-Yuan. Por conseguinte, surgiram infinitas suposições a respeito das técnicas e teorias do Xuan Kong; no início da Dinastia, havia pelo menos cinco escolas maiores fundadas na China, e todas se intitulavam detentoras da verdadeira sabedoria divulgada por Jiang Da-Hong:

· Dian Nan Pai, por Fan Yi-Bin;

· Wu Chang Pai, por Zhang Zhong-Shan;

· Su Zhou Pai, por Xu Di-Hui;

· Xiang Chu Pai, por Yin You-Ben;

· e Guang Dong Pai, por Cai Min-Shan;

Duas obras, a primeira oriunda do Mestre Shen Zu-Nai, seu filho Shen Zhao-Min e o discípulo Jian Yu-Cheng, intitulada “Shen Shi Xuan Kong” (Estudos de Shen sobre o Vazio Misterioso), e a segunda, pelo Mestre Sam Chuk-Yin (1848-1906) “Estrelas Voadoras do Mestre Sam”, tornaram-se referências obrigatórias sobre o estudo do tema.

Outra obra valiosa foi o livro Lo-ching t’ao-chieh (A Completa Compreensão da Bússola Geomântica), que é um estudo sobre o Luo Pan, com explicação detalhada sobre os 36 anéis.

Em 1791, é publicado Xu Jiang Diao Sou (O velho Pescador do Rio Xu), pelo misterioso Mestre daoísta Ruo-Guan Daoren.

Zhang Zhong Shan, considerado um discípulo direto de Jiang Da Hong, escreve o Yin Yang Liang Zhai-Lu-Yan (Registro da Experiência das Moradas Yin e Yang).

Uma contribuição à arte do Feng Shui foi a consideração do karma individual (ming-hu, ming kua ou ming gua– termo usado atualmente) como fator de avaliação da compatibilidade do local com a estrela anual da pessoa (o chamado karma do Céu Anterior) e das suas ações (karma do Céu Posterior). A consideração da escolha da hora certa para lançar as fundações de um edifício, mudar-se para uma casa nova, reformar a casa, baixar o caixão ou levantar a lápide funerária foi uma inovação desse período.

O Feng Shui praticado hoje em dia é muito semelhante ao que era praticado na Dinastia Qing.

A popularização do Método Ba Zhai, através da divulgação de técnicas totalmente distintas em diversos livros criou inúmeras confusões sobre as teorias e funcionalidade desse sistema, dificuldade essa, que permanece até os dias de hoje.

A confusão sobre as verdadeiras bases, bem como intrigas e disputas entre os supostos mestres, criaram mistificações e enganos, que por fim significaram a decadência do Feng Shui ao status de superstição popular. Tal situação foi agravada nos tempos de Mao Ze-dong, quando se pode afirmar que a Sabedoria do Kan Yu foi enterrada, proibida e, em certo aspecto, esquecida.

Fonte:

http://www.fengshui.etc.br