9.4.13

França Equinocial



No início do século XVII, ainda havia pontos do litoral brasileiro mais freqüentados pelos corsários franceses do que pelos portugueses, como era o caso do Maranhão.



Em 1594, os tripulantes de dois navios franceses, dos três que formavam a frota de Jacques Riffault, ficaram perdidos na ilha de Santana, e conviveram pacificamente com os índios Tupinambás. Alguns anos depois, um dos tripulantes, Charles des Vaux, conseguira voltar a França, e este fizera uma intensa propaganda aos proprietários dos armadores da Normandia e Bretanha (Norte da França) para que se criasse uma colônia francesa no Maranhão.

Essa idéia foi aceita com entusiasmo por Daniel de la Touche, Senhor de La Ravardière, que já havia andado pelo litoral da atual Guiana, em viagem de exploração em 1604 com Jean Mocquet.

A França Equinocial é dividida em duas fases distintas: em primeiro, o reconhecimento e em segundo, a ocupação. A primeira fase foi organizada por La Ravardière, com o apoio de Francisco de Rasilly, Senhor des Aumels, Nicolau de Harlay de Sancy, Barão de la Molle e de Gros-Bois, com o objetivo de reconhecer a região e viabilizar a construção de um forte e manter o convívio pacífico com os índios da região, para uma posterior ocupação com colonos. Nesta fase, a expedição era composta por três navios, na qual a sua tripulação era basicamente de voluntários. Muitos deles eram fidalgos e aventureiros, além de quatro padres capuchinhos e de um português e alguns índios, que se encontravam em degredo na ilha de Fernando de Noronha.

E foi assim que, em 1611, a bandeira francesa, com flores-de-lis, foi hasteada pela primeira vez no Maranhão, no meio dos Tupinambás. La Ravardière cumpriu a sua missão no Brasil, regressando seis meses mais tarde a França, pondo fim a primeira fase da França Equinocial.

No dia 19 de março de 1612, zarpara a frota, de Cancale, na Bretanha, e esta era composta por três navios: La Régente; comandado por La Ravardière auxiliado por Rasilly, Charlotte; com o Barão de Sancy e a nau Sante-Anne; com o irmão de Rasilly. Entre os tripulantes haviam alguns padres capuchinhos, na qual destacou-se Claude d'Abbeville, a quem se deve registro de todos os acontecimentos da França Equinocial.

Dois meses depois, a frota chegara ao Maranhão e o desembarque fora completamente pacifico, mediante reconhecimento feito por Charles des Vaux, acolhido com manifestações de amizade pelos Tupinambás.

Os primeiros dias da colônia foram de total alegria e festas; contudo, La Ravardière resolveu organizá-la para garantir uma convivência harmoniosa, com o esforço convergente, sob a garantia da sua autoridade, que seria regida pelas "Loys fondamentales établies en I 'Isle de Maragnan".

A organização da França Equinocial teve início com a construção de um forte, (batizado por ordem de Rasilly, com o nome de São Luís, em homenagem ao Rei Luís XIII, o Justo, que posteriormente deu origem a cidade de São Luís) com vinte peças de artilharia como estava previsto no plano inicial da construção da nova colônia.

Como tudo corria bem para os franceses no Maranhão, La Ravardière, de acordo com os seus companheiros, decidiu-se ir à França para discutir assuntos da colônia entendimentos com a Corte. Isso em novembro de 1612.

A primeira expedição para a reconquista do Maranhão foi organizada pelo Governador-Geral Gaspar de Sousa, tendo como Comandante Jerônimo de Albuquerque, ajudado pelo Sargento-Mor do Estado do Brasil, Diogo de Campos Morena. O efetivo das tropas compreendia centenas de portugueses, brasileiros e indígenas. O transporte foi feito por via marítima, partindo de Pernambuco, já inteiramente dominado pelos portugueses.

Nestas lutas esporádicas entre franceses e luso-brasileiros, houve um impasse, ou seja, não ocorrera uma vitória definitiva de ambas as partes, resultando numa trégua negociada entre La Ravardière (já retornado da França, um ano antes) e Diogo Campos. A idéia era manter as posições que ocupavam, à espera de uma decisão das Cortes respectivas, quanto à posse definitiva do Maranhão.

Contudo, o rei Felipe III não concordou (lembro que neste período da nossa história, tanto o Brasil como Portugal, estavam atrelados ao Império Espanhol) com a discussão do problema, firmando-se no direito certo que tinha Portugal à posse das terras. Determinou que fosse enviada nova expedição militar para ajudar as forças já quarteladas no Maranhão.

La Ravardière, vendo que não havia mais possibilidades de encontrar uma maneira diplomática para resolver o assunto, e sabendo da sua inferioridade numérica em homens e material bélico, rende-se no dia 3 de novembro de 1615, quando ele aceitou "Au camp, devant le fort de Saint-Louis des Français", o ultimato do chefe português, Jerônimo de Albuquerque.

Muito embora estava terminada a Segunda fase da ocupação francesa no Maranhão, inúmeros franceses continuaram nesta região. Posteriormente ajudaram os portugueses e brasileiros a desbravar esta parte do Brasil que continuava selvagem aos olhos dos europeus. Não obstante, com esta permanência "simbólica" dos franceses no extremo norte do Brasil, os governos de ambas as partes, primeiro com Portugal, depois com o próprio Brasil independente contra a França, tiveram sérios problemas políticos. A solução veio em 01/12/1900, através de uma explanação realizada pelo diplomata brasileiro Barão do Rio Branco ao árbitro do caso, W. Hauser, presidente do Conselho Suíço.

Fonte: www.multirio.rj.gov.br