16.12.13

1969: Primeira intervenção no código genético humano

Em 23 de novembro de 1969, o bioquímico Jonathan Beckwith e sua equipe isolaram um gene humano pela primeira vez. Mas, até a decodificação completa do genoma humano, foram necessárias mais algumas décadas.



Flores, folhas e sementes de ervilhas, ovais e poligonais, vermelhas e brancas. Gregor Mendel, monge augustino austríaco, polinizou-as no jardim do mosteiro de Brno, cruzou-as e observou o resultado. Em 1866, Mendel descobriu assim as bases da hereditariedade, mas ninguém na época quis acreditar. Durante anos, as anotações do monge ficaram esquecidas em gavetas.

No fim do século 20, porém, a decodificação da herança genética provocou uma corrida científica. Em 26 de junho de 2000, o cientista Craig Venter, proprietário da empresa Celera Genomics, e Francis Collins, coordenador do projeto Genoma Humano (HUGO), fomentado com recursos públicos de diversos países, anunciaram conjuntamente, numa entrevista com toda pompa em Washington, terem decifrado a herança genética do ser humano.

"Nós estamos profundamente agradecidos pelo privilégio de sermos a primeira geração a poder folhear as páginas do livro que revela o segredo da vida, escrito na linguagem da idade, alguns diriam na linguagem de Deus", declarou Venter.

Complexidade

Mais de três bilhões de caracteres genéticos estão decodificados, ou seja, de 30 a 40 mil genes. Eles fazem o ser humano. A interação dos genes é complexa demais e determinados fatores ambientais desempenham papel tão fundamental que não se pode afirmar qual ou quais genes poderiam ser responsáveis, por exemplo, pela pressão do sangue, ou se há um gene para alcoolismo, olhos azuis, cabelos loiros, musicalidade, bom ou mau caráter.

"Não estamos num filme de faroeste, no qual se identifica o bom e o mau pela ponta do nariz, mas acho que trata-se de o bem contra o bem. Nós temos de deixar dois princípios bem claros neste difícil debate sobre limites. Nós vamos precisar deles e, à pergunta 'O homem pode tudo? O que pode?', pode-se desde já responder com um não", observou Margot von Renesse, presidente da Comissão de Direito e Ética na Medicina Moderna, do Parlamento alemão.

Até o momento, o medo de criação de seres humanos e as visões de Frankensteins são infundados. Talvez o passo dado em direção à manipulação genética humana seja na verdade bem pequeno. Em janeiro de 2001, cientistas apresentaram Andi, o primeiro macaco transgênico do mundo. Segundo seus criadores, exclusivamente para fins medicinais. Com auxílio de um gene de Alzheimer infiltrado, poderia se testar no animal medicamentos e vacinas para seres humanos.

Passos cruciais

Entre o início, ou seja, quando Gregor Mendel fez suas experiências com ervilhas, e o momento atual, do macaco rhesus geneticamente modificado, da cartilha de Craig Venter e da desconfiança sobre os verdadeiros intuitos dos cientistas, onde deram-se os passos cruciais?

Um deles aconteceu em 23 de novembro de 1969, na Universidade de Harvard, em Boston. Na ocasião, uma equipe de pesquisadores, sob a direção do bioquímico Jonathan Beckwith, conseguiu pela primeira vez isolar um gene.

Beckwith: "Aquele foi realmente um grande dia. Foi a primeira intervenção em nosso patrimônio hereditário. Nós trabalhamos com bactérias muito populares, de formação muito simples. Chamam-seEscherichia coli. São bacilos que vivem no intestino humano e cuidam para que ele funcione. O gene que nós isolamos foi – por assim dizer – a base para tudo o que veio em seguida em termos de engenharia genética."

Aqui alguns dos passos seguintes: Em 1973, pesquisadores americanos conseguiram infiltrar o gene de um sapo na bactéria intestinal. Nos EUA, chega ao mercado em 1982 o primeiro medicamento produzido pela engenharia genética, a insulina. O primeiro mamífero transgênico, o rato oncomouse, é patenteado em 1988 nos Estados Unidos.

Dois anos depois, começou o projeto Genoma Humano, no qual cientistas de todo o mundo se uniram para decifrar o código genético. Em 2000, Craig Venter e os cientistas do Genoma Humano apresentaram a cartilha completa do patrimônio genético humano.


Autoria Judith Hartl (mw)
Fonte: DW