5.3.14

Bola de futebol: paixão de dimensões globais

A borracha substituiu a bexiga de porco no fim do século XIX, ao mesmo tempo que o esporte medieval ganhava regras e se popularizava na Inglaterra e, logo depois, no mundo todo


Rivelino em ação em treino da seleção brasileira em 1974: naquele ano, a bola se tornava inteiramente sintética

Por Charles Giol

Claro que chutar bolas e sair correndo atrás delas é tão natural para os homens que a origem do costume se perde nas brumas do tempo. Mas nossas modernas bolas de futebol são descendentes distantes de uma bola específica, a medieval soule. Desde o ano 1000, na Europa, os camponeses jogavam com uma bola rudimentar, cuja composição variava segundo a região: simples bola de feno, esfera de vime ou ainda bexiga de porco inflada e apenas eventualmente revestida de couro.

Esse jogo medieval – soule na França, calcio na Itália e já football, na Inglaterra – não tinha regras estabelecidas. Duas equipes se enfrentavam sem limitação de terreno nem de duração. O objetivo era passar a soule pelos adversários – geralmente moradores de uma cidade vizinha –, com os pés ou as mãos, e depositá-la em algum lugar preestabelecido. Todos os meios eram válidos... e, obviamente, o sangue corria com frequência! Até o século XVIII, na terça-feira de carnaval e no Natal, a bola, que ficava sob a guarda do senhor, era por ele usada para dar início à partida com um chute – o antepassado do nosso pontapé inicial.

Na Inglaterra, no início do século XIX, essa paixão rural floresceu mais do que em qualquer país do continente e percorreu a escala social para ser adotada pelos jovens de boa família que frequentavam as public schools e as universidades. Se as partidas de futebol foram inicialmente tão indisciplinadas quanto as de soule, as coisas começaram a mudar por volta de 1830. O bárbaro esporte bretão estava prestes a se civilizar.

Em 1863, em Londres, nascia a Football Association, que procurou harmonizar as regras que eram próprias a cada grupo de praticantes. As dimensões da bola foram especificadas, como também as do campo e o número de jogadores. Elas variaram ligeiramente até 1937: a partir de então, a segunda lei do futebol estipulou que a circunferência da esfera deveria medir entre 68 e 70 cm, e que seu peso deveria ser de 410 a 450 gramas no início da partida. Sua composição não foi especificada. Os pais fundadores do futebol talvez tivessem adivinhado que ela ainda evoluiria bastante.

No início do século XIX, os primeiros futebolistas modernos continuavam a utilizar uma antiga bexiga de porco inflada e revestida de couro; após a descoberta da vulcanização da borracha por Charles Goodyear, em 1844, uma bexiga de borracha a substituiu. A bola quicava mais, e os chutes se tornaram mais precisos. Foram essas bolas de fabricação inglesa, revestidas de pedaços de couro marrom costurados, que invadiram o mundo no final do século XIX, fazendo do futebol um jogo universal. No Brasil, elas chegaram em 1894, na mala de Charles Miller, jogador do selecionado de Hampshire e do Southampton Football Club.

Paulista, ele fora estudar na Inglaterra e lá se apaixonara pelo jogo praticado por seus antepassados. Filho de um escocês com uma brasileira, era, segundo relatos da época, dotado de excepcional habilidade. Ao regressar ao país, para trabalhar na São Paulo Railway (Estrada de Ferro Santos-Jundiaí), tinha na bagagem duas bolas de futebol, um livro de regras, uniformes e um par de chuteiras. Ali, estava a semente do futebol mais bonito do planeta.

Mas as bolas dessa virada de século ainda apresentavam muitos inconvenientes. Quando chovia, o couro ficava encharcado e o peso da bola quase dobrava, um risco para os jogadores que se aventuravam a cabeceá-la. Para permitir encher a bexiga, foi feito um rasgo no couro, que era fechado por um cordão, o qual machucava a cabeça e atrapalhava a trajetória da bola.

Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, a Select Sport, uma empresa dinamarquesa, modernizaria o objeto graças a uma série de inovações: em 1950, a invenção de uma válvula permitiu suprimir o cordão. Revestido com uma camada de poliuretano, o couro se tornou impermeável em 1965, antes que a bola ficasse inteiramente sintética em 1974. Nesse meio-tempo, no decorrer do ano 1962, a Select Sport inventou um modelo icônico da bola com 32 pedaços: esse “poliedro” constituído por 12 pentágonos pretos e 20 hexágonos brancos tornou-se o emblema universal do futebol. Mais icônico que ele, apenas a camisa canarinho de determinada seleção.
Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/uma_paixao_de_dimensoes_globais.html

INTERCEPTOR G5
GOL G5 PRETO RODA 17 + GOPRO

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