13.8.15

A história das reparações alemãs do pós-Guerra



Quem perde uma guerra deve sofrer as consequências. No entanto, depois de 1945 não houve nenhum acordo estipulando como a Alemanha indenizaria os países agredidos pela ditadura nazista durante a Segunda Guerra.



Em maio de 1945, o regime nazista alemão se rendia incondicionalmente. Tropas americanas, soviéticas e britânicas ocupavam a Alemanha. Milhões de pessoas ficaram desabrigadas, refugiados se deslocavam do leste para o oeste. Os Aliados começaram a organizar politicamente e geograficamente a nova Alemanha.

Na Conferência de Potsdam, entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945, no palácio Cecilienhof, as potências debateram os procedimentos seguintes. Os Estados Unidos conseguiram aprovar sua proposta de reparos baseados em zonas. Cada potência deveria cobrir suas exigências de reparações a partir da própria área que ocupava. O montante dos pagamentos alemães não foi fixado.

Na zona ocupada pelos soviéticos, os proprietários de terras foram expropriados e todas as grandes indústrias, nacionalizadas. O desmantelamento de instalações industriais foi muito mais intenso no leste do que nas zonas ocidentais. Até 1953, a Alemanha Oriental perdeu cerca de 30% da sua capacidade industrial.

"Isso teve a ver com o fato de os alemães terem causado uma destruição imensa na União Soviética, sendo necessária uma compensação mais extensa", explica Manfred Görtemaker, professor de história moderna da Universidade de Potsdam.

Renúncia a reparações

As potências ocidentais, no entanto, precisavam da Alemanha Ocidental como aliada na Guerra Fria, devendo se tornar uma espécie de baluarte econômico e político contra o comunismo. Pois depois da Conferência de Potsdam estava claro: a aliança dos vencedores rapidamente se transformava numa confrontação encarniçada entre o Leste e o Ocidente.

No Tratado de Paz de Paris, de 1947, as potências ocidentais concordavam sobre como distribuir as indenizações de guerra entre si. Além disso, foram estipuladas obrigações de reparação para a Alemanha compensar os refugiados e vítimas da perseguição nazista. Entretanto o tratado não mencionava um montante total a ser pago.

"Os EUA consideravam a problemática das reparações após a Primeira Guerra Mundial", observa Görtemaker. Naquela época, a economia alemã não conseguiu se recuperar durante muito tempo, o que culminou com a ascensão de Hitler. "Por isso os americanos e, até certo ponto, os britânicos defendiam uma renúncia a reparações, a fim de permitir que os alemães se recuperassem economicamente."

Para facilitar essa ascensão econômica, o então secretário de Estado dos EUA, George C. Marshall, encomendou em 1947 a preparação de um plano para reativar a economia europeia. Até 1952, os EUA disponibilizaram aos países europeus ocidentais 12,4 bilhões de dólares. Mais de 10% dessa soma foi para a Alemanha Ocidental.


Gorbatchov e Kohl assinam Tratado Dois-Mais-Quatro em Moscou, 1990

Pagamentos a Israel

No Acordo de Londres de 1953, a Alemanha Ocidental se comprometia a pagar dívidas que não estavam relacionadas a efeitos ou danos da Segunda Guerra Mundial, mas a créditos dos períodos pré e pós-guerra. Berlim conseguiu reduzir à metade sua dívida, originalmente de 29 bilhões de marcos.

A delegação alemã também conseguiu que os antigos adversários reconhecessem reivindicações de seu país em relação ao exterior. Isso garantiu o fluxo de empréstimos para a emergente República Federal da Alemanha (RFA), incentivando sua recuperação econômica. Além disso os credores abriram seus mercados para os produtos alemães. Todas as reclamações do tempo da guerra ficaram adiadas para um tratado de paz posterior.

Apenas alguns dias após o pacto de Londres, o parlamento alemão aprovava o acordo de reparações com Israel, assinado em Luxemburgo, prevendo que a comunidade judaica recebesse da RFA mercadorias no valor de 3 bilhões de marcos alemães – o equivalente a cerca de 1,5 bilhão de euros.

A Jewish Claims Conference recebeu 450 milhões de marcos alemães. Além disso, a Alemanha se comprometia a pagar até o ano 2000 cerca de 83 bilhões de marcos a antigos trabalhadores forçados e prisioneiros dos campos de concentração.

Com o acordo de Londres e o de reparações com Israel, o então chanceler alemão, Konrad Adenauer, visava sobretudo um objetivo político: fazer progredir a integração da Alemanha no Ocidente e apresentar o país como um devedor confiável.


Soldados alemães hasteiam bandeira nazista na Acrópole

Tratado Dois-Mais-Quatro

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, de início não houve um tratado de paz regulamentando as reparações. A Alemanha estava dividida e sob administração aliada. Após a reunificação do país, em 1989, o então chefe de governo Helmut Kohl tentou evitar que a questão das reparações fosse levantada, temendo exigências de todas as 62 nações que haviam estado em guerra com a Alemanha.

A solução foi o chamado Tratado Dois-Mais-Quatro, que estabelece a unidade e a soberania da República Federal, sem mencionar reparações. Para não ter que atender eventuais pedidos de reparações de Estados individuais, adota-se a terminologia "no lugar de um tratado de paz".

O assunto parecia encerrado, até que o governo grego colocou novamente em jogo a questão das reparações, em 2015. Segundo o vice-ministro das Finanças da Grécia, Dimitris Mardas, a Alemanha deveria a seu país quase 280 bilhões de euros. O governo alemão rejeita as exigências até hoje.

"Se a Grécia está exigindo 300 bilhões, quanto a Rússia poderia exigir? Cem trilhões?", pergunta o historiador Ulrich Herbert. Afinal, a União Soviética foi muito mais atingida pelos saques e crimes do Estado nazista. Pagamentos oficiais a Atenas desencadeariam reivindicações muito mais elevadas de outros grupos de vítimas, que acabariam sendo impossíveis de saldar.

Fonte:DW

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